(07/12/2015)
O handebol tem vivido um momento ímpar na história da modalidade no Brasil. Todo o trabalho e investimento que tem sido feito tem se materializado cada vez mais em resultados, não somente na quadra, mas também fora dela. O handebol é um dos esportes que mais cresce no País, conquistando o coração de torcedores, a atenção da mídia e o apoio de patrocinadores. Na entrevista a seguir, o presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), Manoel Luiz Oliveira, fala um pouco sobre esse momento, sobre as ações que estão sendo feitas e sobre as que estão no planejamento para os próximos meses.
Como o sr. vê o desenvolvimento do handebol no Brasil nos últimos anos?
Com mais investimentos, temos conseguido realizar uma série de ações que têm contribuído para o crescimento da modalidade. Desde 2012, com a entrada dos Correios e do Banco do Brasil, nossos patrocinadores oficiais, estamos conseguindo proporcionar às nossas Seleções, tanto adultas quanto de base, um volume maior de treinamentos, intercâmbios e participação em campeonatos internacionais. Além disso, conseguimos incrementar o trabalho dentro das Seleções com comissões técnicas multidisciplinares, que cuidam de todos os pontos necessários para uma boa performance. Isso, sem dúvida alguma, tem se transformado em resultados que nos enchem de orgulho.
O handebol tem feito nos últimos anos vários eventos espalhados pelo Brasil que tem sido cada vez mais um sucesso de público. A que isso se deve?
Realmente, recentemente, temos passado por várias cidades, levando nossas Seleções para mais perto do público. Isso é importante para os dois lados, tanto para os fãs do handebol, que podem ter contato com seus ídolos, quanto para os atletas que sentem o carinho e incentivo das pessoas. Estamos conseguindo organizar grandes eventos e conquistar um número cada vez maior de público. Para se ter uma ideia, há pouco tempo quando realizávamos um torneio ou amistoso com as nossas Seleções, tínhamos cerca de 500 pessoas assistindo, como nos amistosos da Seleção Masculina com a Coreia do Sul, em 2012. Em contrapartida, no II Torneio Quatro Nações Masculino, em João Pessoa (PB), o Ginásio Poliesportivo Ronaldo Cunha Lima, o Ronaldão, recebeu na final mais de 6 mil pessoas. Hoje, há filas para a troca de ingressos e os locais de jogos estão ficando lotados. De 2012 até agora, realizamos jogos em Cabo Frio (RJ), Vitória (ES), Santos (SP), Blumenau (SC), Joinville (SC), Foz do Iguaçu (PR), Maceió (AL), Rio de Janeiro (RJ), Aracaju (SE), São Bernardo do Campo (SP), Santo André (SP), São Caetano do Sul (SP), Uberaba (MG), Uberlândia (MG), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e Brasília (DF). Foram 20 jogos realizados no Brasil com as Seleções Brasileiras, 37 fases de treinamentos nacionais e 20 fases de treinamento internacionais.
Além disso, após o acordo que fizemos com o SporTV, que é um dos principais canais de televisão esportivos do País, estamos conseguindo levar o handebol para a casa de milhões de brasileiros que tinham o anseio de assistir e não conseguiam. Para exemplificar, somente em 2015 o handebol teve 40 jogos transmitidos ao vivo, além de VT’s, e 39 jogos nos canais SporTV. No mesmo período de 2014 foram 16 transmissões ao vivo mais VT’s. Foram 24 jogos a mais do que em 2014.
Falando de TV, este ano, a Seleção Feminina fez um amistoso com a Noruega que foi transmitido pelo Esporte Espetacular, horário nobre da TV Globo. Como o sr. avalia isso?
Foi um sonho realizado ter um jogo da Seleção em TV aberta em um domingo. Na época, recebemos muitas críticas porque o jogo não foi realizado com o tempo normal e sim reduzido para dois tempos de 20 minutos. Claro que o ideal era que tivéssemos a partida em tempo normal, mas como não era possível, fizemos o acordo com o canal para que a partida pudesse ser encaixada na grade de programação daquela forma, pois só assim, conseguiríamos que o público de todo o Brasil pudesse acompanhar essa partida histórica com a Seleção da Noruega, atual bicampeã olímpica. Foi um grande teste para que o handebol possa estar mais vezes na programação do canal futuramente e a experiência foi excelente. Temos contrato com a Globosat até 2020, o que nos garante a continuidade dessa visibilidade.
Como o sr. disse, o Desafio Internacional foi contra uma equipe bicampeã olímpica. Até pouco tempo era difícil trazer uma equipe com esse nível para jogar no Brasil?
Era muito difícil. Hoje, com o prestígio que conquistamos e os recursos que podemos utilizar vindos dos nossos patrocinadores, temos condições de trazer ao Brasil Seleções de primeira linha para amistosos e torneios, como também é importante ressaltar que nossas Seleções são convidadas para participar de eventos muito importantes no exterior. Quando o Brasil faz o convite, se responsabiliza por todas as despesas para a vinda dessas equipes para cá, como passagens, hospedagens, alimentação, transporte interno, enfim, tudo o que é necessário. Antes da entrada dos nossos patrocinadores e do apoio do Ministério do Esporte, algo assim era impossível. Além de amistosos e torneios preparatórios, temos conseguido trazer para o Brasil também campeonatos oficias da Federação Internacional de Handebol (IHF). Este ano, realizamos o Mundial Júnior Masculino em Minas Gerais e ano passado o Mundial de Handebol de Areia em Recife (PE). Ambos foram um grande sucesso e provamos que temos capacidade para realizar campeonatos dessa magnitude. Nenhum outro País das Américas realiza tantos jogos internacionais como o Brasil.
E como é feita a escolha dos locais que irão receber esses eventos?
Primeiramente, fazemos uma grande pesquisa. Hoje, infelizmente, no Brasil temos poucos lugares com condições de receber eventos dessa magnitude. Primeiro, temos que analisar se a quadra tem a medida oficial de 40 x 20 metros e se o piso é adequado, ou seja, flutuante. Não temos muitos ginásios com piso flutuante no Brasil, mesmo assim, conseguimos superar esse obstáculo levando o nosso piso oficial emborrachado, aprovado pela Federação Internacional de Handebol (IHF), e embaixo deles colocamos uma cobertura de EVA para resolver o problema. Isso demanda uma logística enorme. Somente o piso emborrachado pesa oito toneladas e tem que ser instalado por uma empresa especializada para garantir que ele esteja em perfeitas condições para os nossos atletas. São mais ou menos três dias de instalação para deixar tudo perfeito. Ao final do evento, temos que fazer o caminho contrário, ou seja, desinstalar todo o piso e colocá-lo novamente no caminhão para que seja armazenado.
Além disso, o local precisa ter também outros pontos importantes como iluminação adequada, estrutura para a transmissão de TV, ter uma boa capacidade de público, já que hoje não podemos realizar um jogo para apenas 500 pessoas, um bom sistema elétrico, lugar para posicionamento de câmeras e para receber a imprensa, enfim, são uma série de fatores que precisam estar presentes quando fazemos a escolha de um local para os jogos.
Mesmo assim, a CBHb tem conseguido levar os eventos para vários lugares. Isso é uma forma de democratizar a modalidade?
Com certeza. Como havia dito, por exigir essas condições especiais ficamos limitados a poucos ginásios no País, mas ao levar toda a nossa estrutura, conseguimos abrir um pouco mais esse leque, pois o público é o mais importante. Quem nunca teve o sonho de ver um ídolo de perto? Graças a Deus, com a estrutura que podemos proporcionar hoje, estamos conseguindo realizar o sonho de muita gente. Além disso, temos a oportunidade de deixar um legado, inclusive com o aperfeiçoamento da mão de obra das cidades. No Mundial Júnior de Minas Gerais, por exemplo, todos os cronometristas, mesários e delegados foram treinados para atuarem também em outras importantes competições internacionais, como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
No entanto, na última ocasião, em Brasília, houveram sérios problemas que impediram a realização do Torneio Quatro Nações Feminino. O que aconteceu?
Esta foi a terceira edição do Torneio Quatro Nações que realizamos. Foram duas masculinas e essa a primeira feminina. Foi um evento criado por nós para ajudar na preparação das nossas Seleções e que tem sido um grande sucesso. Infelizmente, em Brasília (DF), fomos pegos de surpresa com o problema das goteiras no ginásio. Ao contrário do que muita gente está dizendo, fizemos sim vistorias prévias no local para saber se ele tinha condições de receber o evento. O ginásio Nilson Nelson entra nessa pequena lista de locais com condições de receber o handebol atualmente. As pequenas adequações que eram necessárias nós conseguimos fazer, mas em momento algum nos foi dito que o ginásio tinha problemas com goteiras. Tomamos conhecimento disso na semana do evento, quando estávamos instalando o piso. Tomamos todas as providências para solucionar o problema, mesmo não sendo responsáveis pela parte estrutural do local. Contratamos uma empresa especializada para fazer os trabalhos de forma emergencial, indicada pelas autoridades do Distrito Federal, e ela conseguiu diminuir o transtorno, porém, a chuva foi muito forte e não foi possível conter todos os pontos. Entretanto, no momento das partidas já não havia goteiras. O que aconteceu foi uma forte inversão térmica por conta da chuva e o calor dentro do ginásio, que acabou causando umidade no piso e deixando-o impróprio para as partidas. Apesar de ser algo extremamente negativo, uma perda imensurável, era preferível preservar as atletas que estão indo para um Campeonato Mundial.
Mesmo tendo poucas opções para a realização do torneio, porque Brasília (DF) foi a escolhida?
Brasília é a capital do nosso País, um local que fica em um ponto estratégico geograficamente tanto para a chegada quanto para a saída das Seleções, que de lá, puderam embarcar direto para a Europa para o Campeonato Mundial. É um local onde existem muitos fãs do handebol e também de fácil acesso para o público de outros Estados. Além disso, lá estão as sedes dos nossos patrocinadores (Correios e Banco do Brasil) e do Ministério do Esporte que tanto nos apoiam. Queríamos dar um presente a todos com a realização do Torneio Quatro Nações lá. Infelizmente, não foi possível.
Por conta disso, a Confederação recebeu muitas críticas do público e da imprensa. Como é lidar com isso?
O público tem todo o direito de ficar chateado, mas gostaria que procurasse entender a situação como ela realmente ocorreu. Tudo que nós queríamos era fazer o melhor, mas alguns fatores, como o climático, fogem do nosso controle. Todas as adequações que poderiam ser feitas, foram feitas, mas com essa inversão térmica foi impossível lutar. A imprensa tem todo o direito de analisar a situação e noticiar, desde que busque ouvir todos os lados e diga a verdade. Estamos acostumados a lidar com as críticas e, na maioria das vezes, elas são bem-vindas. Porém, alguns pseudo jornalistas não sabem o que falam nessa hora e só querem causar tumulto. Fazem críticas infundadas, sem se inteirar realmente do assunto, apenas para polemizar e ganhar ibope. Esse tipo de atitude eu realmente não respeito. O jornalismo sério é muito bem-vindo, lidamos com críticas muito bem, mas esse falso jornalismo não. O handebol hoje tem uma cobertura jornalística enorme, tanto é que os principais veículos de comunicação do País estão indo agora para a Dinamarca para a cobertura do Mundial. Isso me deixa extremamente feliz.
Após o ocorrido em Brasília (DF), será mantida essa estratégia de levar o handebol para várias regiões do Brasil?
Uma das missões da CBHb é o desenvolvimento do handebol em todas os níveis. Sempre procuramos levar os ídolos da modalidade para mais perto dos amantes da modalidade fora do eixo Rio-São Paulo. Por isso, nossos eventos são realizados em várias cidades. Em todos os lugares encontramos problemas, como umidade e iluminação inadequada no ginásio, por exemplo, mas eles sempre foram superados. Essas adversidades não se restringem somente ao Distrito Federal, já que hoje há menos de cinco ginásios em condições de receber eventos esportivos de alto nível, como é o caso do Torneio Quatro Nações.
Quais ações a CBHb tem feito para promover o handebol também além do alto nível?
A CBHb sempre se preocupou com o desenvolvimento do handebol como um todo. Sabemos que a nossa modalidade se desenvolve principalmente na escola e, por isso, criamos há vários anos o Projeto MiniHand, de iniciação ao esporte. Também com a ajuda dos nossos patrocinadores pudemos implantar mais núcleos em diferentes regiões do País. Alguns deles são belos exemplos de como o esporte muda a vida das pessoas. As crianças hoje têm o sonho de chegar às nossas Seleções. Além disso, temos realizado anualmente, em parceria com o Ministério do Esporte, o Acampamento Nacional de Desenvolvimento e Melhoria Técnica, que é coordenado pelos técnicos das Seleções Adultas, para jovens atletas das categorias Júnior, Juvenil e Cadete. De lá, já saíram vários atletas que hoje compõem nossas Seleções Olímpicas. Conseguimos reunir em Blumenau (SC) cerca de 120 atletas de uma só vez. Para completar, no ano que vem, faremos a realização do 24 Horas de Handebol, uma maratona que será realizada em todo o País. Faremos também no próximo ano o I Congresso Internacional de Handebol.
O que o handebol tem planejado para os próximos meses até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?
Vamos dar continuidade a execução do nosso planejamento, com foco total em um bom resultado em 2016. Sabemos que nossas Seleções têm totais condições de brigar por uma medalha e vamos seguir dando todo o suporte para isso. Já temos várias fases de treinamento, tanto no Brasil quanto na Europa, que servirão como preparação final para os Jogos. Hoje, o handebol, principalmente o feminino por ter chegado onde chegou, já é apontado como uma modalidade que tem possibilidade de medalha e isso se deve a um grande esforço conjunto. Vamos continuar com nosso planejamento para cumprir essa expectativa.
O handebol já tem um centro de treinamento que está praticamente pronto para o uso. Como isso irá contribuir na preparação das Seleções?
O Centro Nacional de Desenvolvimento, construído em São Bernardo do Campo (SP), será um marco para a modalidade. A estrutura conta com duas quadras, vestiários, restaurante, refeitório, academia, fisioterapia, escritórios e alojamento para 143 pessoas, com capacidade para abrigar quatro Seleções ao mesmo tempo. As dependências já estão prontas, faltando os equipamentos, estimados em R$ 6 milhões. Com ele, vamos poder nos reunir ainda mais vezes durante o ano, sem ter que depender de estrutura das cidades para treinar.
As Seleções de base no indoor também têm conquistado resultados melhores. Como o sr. avalia isso? E o handebol de areia?
Como disse antes, tudo isso faz parte de um grande trabalho que contempla atletas desde a idade escolar e a iniciação até as Seleções Olímpicas. Nosso objetivo é fazer a roda girar. Com esse trabalho com as categorias de base, conseguimos garantir que nossas seleções tenham qualidade constantemente. Um exemplo disso são os resultados que estamos tendo. Nossa Seleção Júnior Masculina saltou do 11º lugar em 2011 no Mundial para a sexta posição em 2013. O Feminino foi do 12º para o sétimo. Esses são apenas alguns exemplos. No handebol de areia, mantemos nossa hegemonia e somos primeiros do mundo nos dois naipes, masculino e feminino
Durante a passagem das Seleções pelas cidades onde são realizados os eventos, a CBHb tem promovido outras ações sociais e ambientais. Qual é o objetivo disso?
Nosso objetivo é deixar um legado e não somente esportivo, mas também social e ambiental. A troca de alimentos pelos ingressos, por exemplo, é um deles. Assim, temos a possibilidade de ajudar a instituições filantrópicas. Também sempre promovemos ações ambientais em parceria com nossos patrocinadores pois entendemos a importância disso. Queremos seguir conquistando resultados não somente na quadra, mas também fora dela.
A CBHb fez adequações no plano de Governança Corporativa para alinhar aos objetivos do Ministério do Esporte para as Confederações Esportivas Brasileiras, conforme o disposto na Lei 9.615/98, regulamentada pelo Decreto nº 7.984, de 8 de abril de 2013. Qual a importância dessas mudanças?
As alterações dizem respeito a questões administrativas e estratégicas, que já vêm sendo implantadas e aprimoradas nos últimos anos e visam estabelecer um novo padrão de governança corporativa, de acordo com a ética necessária para uma entidade e as normas estabelecidas de acordo com o poder público (Ministério do Esporte e outros), patrocinadores e sociedade. Entre elas estão: Regulamento das Contratações, Auditoria Independente, Comitê de Apoio ao Conselho de Administração, Conselho Fiscal Independente, Conselho Consultivo, Código de Ética e Ouvidoria, entre outras. Todas elas estão disponíveis no site oficial da CBHb.
fonte:http://www.brasilhandebol.com.br/noticias_detalhesEspecial.asp?id=31324&moda=&contexto=22.01&area=&evento=