quinta-feira, 14 de julho de 2011

'Irmão branco', melhor amigo guarda saudade e relíquias do Rei do Futebol

    POR:PROF.Ms.EDISON SANTOS

   Raul Marçal da Silva tem na casa  simples da periferia de Bauru
 peças valiosíssimas sobre a história do Rei do Futebol. 
   Enquanto o mundo conheceu todo o encanto de Edson Arantes 
do Nascimento com a bola nos pés, ele viu de perto os primeiros passos
 do melhor amigo Dico,
 o mesmo que, mais tarde, se transformaria em Pelé e conquistaria 
o planeta com a camisa do Santos e da Seleção Brasileira.
  Pelé chegou a Bauru com apenas quatro e não demorou 
a fazer amizades, claro, pelo futebol. Raul foi um dos primeiros amigos.
 Bauru crescia aceleradamente com a presença da estrada de ferro. 
Como os pais viviam em um bairro distante, o garoto passava a maior 
parte do tempo na casa dos avós, vizinhos de Dondinho e Celeste, pais do Rei.
 Ele passava finais de semana na minha casa. Nossas famílias eram muito próximas. 
Não era só uma amizade de futebol – contou.
   A bola, porém, estreitou ainda mais a relação. 
Raul reconhece que não tinha nem de longe o talento do amigo, 
mas seu pai Olavo, apelidado de Lavico, foi um dos que incentivou a carreira de Pelé.
 Veio das mãos dele a primeira chuteira utilizada pelo menino para disputar
 torneios da categoria juvenil pela cidade e região. 
A gratidão apareceria anos depois.
   Depois de uma excursão pela Rússia, o Pelé trouxe uma chuteira 
de presente para o meu pai, mostrando que não esqueceu do que 
ele havia feito - lembrou Raul.
Mais do que um amigo, Raul foi também uma testemunha de
 todo o talento do futuro Rei. Pelé não demorou a ganhar fama em 
Bauru pelo que fazia com a bola. Apesar da pouca idade, já fazia 
parte de equipes de garotos maiores. Mesmo assim, sempre era
 o grande destaque com dribles desconcertantes e muitos gols.
   Não dava para competir com ele no futebol. Ele era bom em tudo,
 nasceu com a estrela na testa. Poderia até ter sido 
goleiro se quisesse – ressaltou.
   Dico virou Pelé e deixou Bauru para ganhar o mundo.
 Mas não esqueceu dos amigos. A relação com a família vizinha era tão
 boa que ele se referia a seu Lavico e à dona Emirinia como tios e tias.
 Raul e a irmã Raquel eram os primos. Mesmo distante, 
o craque continuou em contato. A cada viagem, enviava postais.
 O primeiro é datado de 28 de maio de 1958, direto de Florença-ITA.
 Raul guarda ainda outros cartões vindos de Dusseldorf-ALE, Pisa-ITA e Marselha-FRA.
   Ele me chamava de primo, mas depois virei irmão.
 O irmão branco (risos) – brincou.
Nem mesmo quando estave prestes a encerrar a carreira
Pelé deixou de pensar nos amigos. Os irmãos foram convidados 
a viajar até Nova Iorque e acompanhar a despedida do Rei,
 em partida do Cosmos contra o Santos. Trabalhando 
como representante comercial em Dracena, também no 
interior de São Paulo, Raul teve de explicar a todos os motivos do chamado.
   Ninguém sabia que eu era amigo do Pelé. Tive que contar a história
 muitas vezes. Algumas pessoas não acreditavam. Eu quase não 
viajei porque não tinha passaporte. Mas, falando que era para a festa 
do Pelé, tudo ficou mais rápido – disse.
   Raul guarda álbuns recheados de fotografias de Nova Iorque. 
A viagem, presente na memória até hoje, está em segundo plano.
 Em primeiro, todo o tempo que conviveu ao lado do melhor amigo. 
Para o mundo, Pelé. Para ele, o Dico.
   Hoje, não temos mais tanto contato.
 É mais fácil ele me achar do que eu achá-lo. 
Ele é uma pessoa muito ocupada, um cidadão do mundo.
Ninguém poderia imaginar que o Dico virasse tudo isso – 
completou Raul, com os olhos cheios de lágrimas.
Fonte : G1

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