quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO



Título: O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO

Autores: 
Mario Filho
Dimensões:
• Altura: 23 cm
• Largura: 16 cm
Informações Complementares:
• Páginas: 342
• ISBN: 85-7478-096-0
• Editora: MAUAD X
Sinopse:
Que o futebol é um esporte que nasceu inglês, todo mundo sabe. Que encontrou o seu berço esplêndido na terra de Iracema, todos também sabem. Que o futebol tem um padrasto genial e torcedor ululante na figura inesquecível de Mário Rodrigues Filho (1908-1966), muitos sabem, e isto é fato.
Mas saber que ele foi o inventor do futebol como espetáculo épico como todos conhecem, sociólogo do esporte bretão e pai da crônica futebolística, isso poucos sabem.

Para quem não sabe, vale a pena ler e conhecer a obra do escritor e filósofo da bola Mário Filho, autor de O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO, livro editado pela primeira vez em 1947, e que ganha nova edição, pela Editora Mauad X. Empírico e rapsodo da bola, Mário Filho criou o jornalismo esportivo como conhecemos hoje, concebeu e nomeou o Estádio Municipal do Maracanã, inaugurou o clássico Fla-Flu e criou o Torneio Rio-São Paulo, que se tornaria o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (vulgo “Robertão”), embrião do Campeonato Brasileiro.
MITO FUNDADORCiente de que o Brasil era uma geléia geral e que o futebol era algo mal assistido, Mário Filho decidiu intervir. Se ninguém se habilitara a contar a história do começo, ele mesmo se debruçaria sobre o assunto: alguma coisa como teoria e prática do futebol-arte.
Em seu livro, ele revela: o primeiro clube a aceitar um jogador negro foi o Bangu, e o carioca Vasco da Gama foi o precursor a colocar um time racialmente misto em campo. Por mais incrível que pareça, no começo, o futebol dos grandes clubes era interdito aos negros.
Para poderem jogar, eles usavam toucas para esconder o cabelo crespo e se maquiavam com pó-de-arroz para clarear a pele. Para entrarem pela porta da frente, eles tinham que se passar por pessoas brancas.
O próprio apelido de “pó-de-arroz”, não é gratuito: ele nasceu da necessidade de certos jogadores que, por mais geniais e convincentes que fossem, rescindissem do fato de serem brancos para demonstrarem sua arte.
Foi a partir da questão da nacionalidade e do fetiche particular de Mário Filho pelo futebol que O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO veio à lume.

Escrito com texto vigoroso, importante material histórico e de caráter épico, o livro é uma referência de pesquisa da história do esporte bretão. Principalmente porque a bibliografia a respeito do assunto é rara e restrita, e a obra de Mário Filho é, antes de tudo, o seu mito fundador. É pelo fato de ser oriundo de um tempo em que a sociologia brasileira engatinhava (Casa Grande e Senzala, por exemplo, é de 1933) e advinha de um pensamento ora ufanista, ora pessimista (vide Afonso Celso, Nina Rodrigues ou Paulo Prado), Mário colocou a sua visão particular.

Como dizem alguns, ele atribuiu ao seu livro uma aura acadêmica. Particular porque, com exceção de estudos formais sobre sociologia, em quando ele começou a escrevê-lo, não havia o que consultar, a não ser arquivos de jornais e o material que ele começava a documentar no seu revolucionário Jornal dos Sports.

O livro é audacioso. A despeito de uma pretensa objetividade ao analisar os fatos, Mário Filho se aproxima um pouco do pensamento que seu irmão viria a imprimir na crônica esportiva, com um verniz de imaginação. Esse é o fator questionado por seus detratores. A discussão teórica sobre o futebol foi superestimada ao paroxismo de que O Negro... se tornou um suporte teórico com fundo falso.

Como dizia Nelson Rodrigues, todos os eventos épicos tinham sempre o seu Homero, o seu Dante à mão, a fim de ser o seu rapsodo. O objetivo de Mário é justamente este: ser o Homero do futebol. Mario Filho pretendeu fazer a genealogia do esporte mais popular do Brasil e explicar a forma como negros e mulatos ingressaram no futebol carioca do início do século 20. Ele revela que, num País mulato, somente brancos ricos tinham o direito de correr atrás de uma bola importada. Mais: o que definia a formação dos times era a cor da pele e a composição da “assistência”, enquanto os cariocas se questionavam sobre a necessidade de incluir pretos num escrete.

Eles diziam: pra que negros, se times de brancos eram campeões no Rio? Fluminense, América, Botafogo e Flamengo. Mulatos ou negros inexistiam na paisagem futebolística. E não era apenas no Rio de Janeiro. Homens de cor eram segregados também no Rio Grande do Sul. Por conta disso, jogadores negros criaram a Liga da Canela Preta, no final da década de 20.

Negros só foram aceitos, a princípio, no Internacional que, com um time misto, criou a primeira revolução futebolística no estado, criando o mítico Rolo Compressor. O preconceito racial do Grêmio, por exemplo, só acabaria em 4 de março de 1952, com Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha, contratado pelo time tricolor. Até então ídolo da torcida colorada e reconhecido como um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, apresentou-se na Baixada como primeiro reforço negro do clube, depois de fazer fama nos gramados do Inter e do Vasco da Gama.

No começo, futebol era um esporte classudo. Só os bem-nascidos tinham acesso a ele. Coisa de inglês. Negros e mestiços (ou creoles) só conseguiram ocupar seus espaços graças aos embranquecimentos artificiais. Foi o pó-de-arroz usado pelos jogadores mulatos que deu nome à torcida do Flu. Carlos Alberto, tricolor, usava o produto no rosto para camuflar-se. O lendário Friedenreich alisava o cabelo. Obstinado, Robson era “pó-de-arroz”. Crivado de olhares preconceituosos, uma vez ele disse: "Eu já fui preto e sei o que é isso”.

O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO é cheio de historietas desse tipo. Mário Filho é capaz de emocionar, não sem nos deixar vermelhos de vergonha. Principalmente porque, apesar de Mário Filho, o preconceito ainda vive. Por incrível que pareça, Mário também é considerado mentor desse “preconceito”.

Em A Invenção
 do País do Futebol – Mídia, Raça e Idolatria, os autores Ronaldo Helal, Antonio Jorge Soares e Hugo Lovisolo entendem que o livro pioneiro de Mário se equivoca justamente no enfoque sociológico, ao afirmar que o negro teria sido o criador da ginga, do drible, do estilo brasileiro de se jogar futebol.

INVENÇÃO E CONSTRUÇÃOPara eles, a utilização de O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO por sociólogos criou uma espécie de interpretação única, com os ideais da construção de uma nação brasileira com menos antagonismos entre as raças. Antonio Jorge Soares reconhece a qualidade do livro, mas diz que o livro foi utilizado de maneira equivocada pelos cientistas sociais. De fato, quando os estudiosos decidiram se debruçar sobre a história social do futebol e discutir o seu papel na sociedade brasileira, se depararam apenas com a obra de Mário Filho.

Desta maneira, o jornalista se tornou fonte principal. De acordo com os pesquisadores, o equívoco não seria de Mário, mas da forma com que especialistas acabaram franqueando a tese do autor, como a construção do ídolo negro — que seria mais uma criação romântica que deu certo. Para os autores, o racismo preexistiu, mas o nosso futebol se fez mais pela pressão do profissionalismo, pela criação das ligas, do que propriamente por racismo. Jorge salienta que Mário Filho buscou constituir uma identidade nacional, cujo enfoque tem influência do meio em que viveu.

De sua pena, teria nascido um conceito que encontra cognato no pensamento daqueles tempos, a idéia de “coesão social”. Todos se unem pelo futebol, o esporte os iguala. A partir daí que Mário Filho foi usado em favor de uma teoria explicável de que essa coesão social se faz, o negro vira o criador da ginga e o futebol se torna brasileiro e a Seleção Brasileira"a pátria de chuteiras”.

Para Soares e Lovisolo, esse conceito se criou antes pela necessidade de afirmação de uma nação, e depois pela paixão dos jornalistas. Para eles, tal fato se deu como opção cultural que ocorreu na definição da identidade. O futebol para ser tipicamente brasileiro tinha que ser alegre, plástico, épico e lúdico. É lógico que o fato de ser fruto de uma época e de um lugar, O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO não possui demérito algum em ser questionável do ponto de vista sociológico. Tal questionamento visa apenas que Mário Filho seja encarado como fonte, mas não como matriz indubitável.
É bem provável que esta não fosse a intenção se seu autor, o pai dos cronistas esportivos. Além de prosa excelente, ele é um grande livro de histórias:

"O Flamengo podia ter um preto no atletismo, no basquete, no water-polo, no remo. Assistia-se a uma regata de longe, do pavilhão da praia de Botafogo, da amurada da Avenida Beira-Mar, de uma barca. Não se via direito o remador, via-se o barco, os remos. Os remadores, numa regata, viravam uns barcos, uns remos. Num match de futebol via-se o jogador em close-up. Batalha, Pena e Hélcio, Mamede, Seabra e Dino, Newton, Candiota, Nonô, Vadinho e Moderato. O Flamengo não podia ter nenhum preto em futebol. Em futebol precisava ser branco, tão branco como o Fluminense. Não era de admirar, portanto, que quando gente do Flamengo e do Fluminense se juntava para formar um escrete carioca, o escrete saísse todo branco, do quíper ao extrema-esquerda".O grande primeiro ídolo creole na Terra da Palmeira foi Friedenreich, mulato de cabelo crespo, filho de pai alemão e mãe negra. Jogador do Paulistano, se tornaria famoso a partir de1919, após derrotar o Uruguai.

"O povo descobrindo, de repente, que o futebol deveria ser de todas as cores, futebol sem classes, tudo misturado, bem brasileiro", narra Mário Filho.

Num trecho, ele revela as atribulações por que passavam os atletas que quisessem cidadania na Itália:

"O que valia um Bertini, um Zacconi no nome. Benedito de Oliveira Menezes seria o Benedito Zacconi, adotando o nome do sogro. O sogro, o Zacconi, virou pai do genro. A mulher, irmã dele”.

Só para se imaginar o que significava um sobrenome. E o incrível é que a história de Benedito Menezes aconteceu na década de 30. Na questão racial, Mário demonstra que, a despeito da tal coesão social, a utilização de negros tinha um viés maquiavélico.

Oriundo da segundona, o Vasco da Gama ganhou a primeira divisão usando um time misto (brancos, negros e mulatos), "patrolando" times 100% brancos. Contudo, dirigentes da equipe diziam: "entre um preto e um branco, os dois jogando a mesma coisa, o Vasco fica com o branco. O preto é para a necessidade, para ajudar o Vasco a vencer".
Sobre o AutorMário Rodrigues Filho, o ”homero do futebol”, nasceu no dia 3 de junho de 1908 em Recife, Pernambuco. Desembarcou no Rio de Janeiro em 1916. Iniciou sua carreira jornalística muito jovem, com apenas dezessete anos, nos jornais A Manhã e Crítica. Desempregado, em 1931, ele foi convidado por Roberto Marinho a chefiar a parte de esportes do jornal O Globo. Foi Mário quem deu identidade à página de esportes de um jornal, destituindo-o de todo formalismo ainda existente. Em 1936, ele comprou do Dr. Roberto o Jornal dos Sports. E foi ali que ele realizou a verdadeira revolução: criou os Jogos da Primavera em 1947, os Jogos Infantis em 1951, o Torneio de Pelada no Aterro do Flamengo e o Torneio Rio-São Paulo (que ele chamou de Roberto Gomes Pedrosa para melindrar os paulistas). Liderou também a campanha pela construção de um gigantesco estádio municipal no Rio de Janeiro, no antigo hipódromo carioca, o Maracanã, hoje o Estádio Mário Filho.

Além de O Negro no Futebol Brasileiro, escreveu outros nove livros, todos clássicos:Bonecas (1927), Copa Rio Branco (1932), Histórias do Flamengo (1934), Romance do Football (1949), Senhorita (1950), Copa do Mundo de 62 (1962), Viagem em Torno de Pelé (1964), O Rosto (1965) e Infância de Portinari (1966). Em 1994, a Companhia das Letras editou Sapo de Arubinha, uma coletânea de crônicas de genial jornalista.
 FONTE: http://www.livrosdefutebol.com/catalogo_detail.asp?cod_produto=4

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