sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Prática de Jogo nas Categorias Menores do Futsal



POR: Vinícius dos Santos França
Técnico de futsal do Paraná Clube (PR), categorias Sub-11, 13 e 15
Pós-graduando em futsal na UNOPAR (PR)


      Dudu, aos 8 anos de idade, ao ser comunicado por seu técnico que entraria na equipe após o intervalo da partida arregalou os olhos! Apesar de estar inserido num contexto competitivo de jogo, com cobranças, nunca havia vivenciado, por 10 minutos que fossem, uma real situação em toda sua trajetória, desde a categoria mamadeira, passando pela fraldinha. Até ali vivenciara situações nada pedagógicas e pouco condizentes com os objetivos da criança no futsal ou em qualquer outro esporte, que é de participar, de aprender e de fantasiar.

      Mal sabia Dudu (goleiro) que algo mais complexo aconteceria: ao entrar no jogo, sua equipe vencia por 4x0, mas, por tudo aquilo que envolve uma partida de futsal, principalmente em se tratando de crianças, cuja instabilidade é compatível com a idade, o adversário marcou dois gols! Para Dudu, aqueles momentos foram os piores golpes sofridos durante sua pequena trajetória esportiva.

      Num pedido de tempo de uma das equipes, Dudu se aproximou de seu técnico e falou: "Professor, por favor, me tira do jogo. Estou muito cansado". Algum "boleirão" de plantão, que se diz técnico e ou professor de futsal, ao analisar tal situação pode achar que a criança pipocou ou amarelou. Mas Dudu é apenas um iniciante no futsal e, naquele momento, não soube lidar com o acontecido. Aos "boleirões", respondo que, com toda certeza, se tratava de um sentimento do garoto em decorrência de não ter vivenciado tal situação anteriormente. Ora, ainda que ele fizesse parte de uma equipe, ele não tinha experiência de jogar. Ele fazia parte, mas não participava, contrariando o objetivo principal do esporte para crianças.

      Hoje, Dudu faz parte da equipe sub-11 do Paraná Clube, que prioriza a prática de jogo, isto é, a participação de todas as crianças sem preferências por a, b ou c. A situação de jogar para ele, hoje, é comum e de fácil absorção, pois Dudu, como seus demais colegas, não são apenas meros espectadores, e sim crianças que aprendem a jogar jogando
      A atitude de alguns treinadores de negar a participação de todos e priorizar os mais talentosos, a fim de alimentarem seu próprio ego, manterem-se no emprego é equivocada. A todos deve ser dada a oportunidade de se desenvolver. Quem se tornará atleta de futsal? Não sei. Não é isso que importa.
      Pela busca do título de campeão mamadeira, fraldinha e pré-mirim, inescrupulosos, que se dizem técnicos, resumem suas equipes a participação de 5, no máximo 6, crianças. No futuro, quando todos estiverem com 12, 13, 14, 15 anos de idade, passando de uma fase de orientação para um momento de especialização no futsal, os que ficaram de fora por tanto tempo, não vivenciaram o jogo. A tendência é que continuem a serem deixados de lado. E o serão por falta de uma conduta responsável e inteligente de quem trabalha na base.

      João Batista Freire, em seu livro Pedagogia do futebol (Autores Associados), fala que crianças de 6 e 7 anos de idade não deveriam participar de escola de esportes. Talvez ele tenha mesmo razão. É preciso criar ambientes nos quais as brincadeiras ajudem a criança a enriquecer sua criatividade e o futsal, em muitos casos, não tem garantido isso, uma vez que faz a criança passar várias partidas num banco de reservas em troca de uma medalha, sem poder fantasiar, sem brincar e sem ganhar experiência de jogo.


      O esporte, por tudo que representa, deve oportunizar meios para que a criança jogue, fantasie e brinque e, por conseqüência, crie. Isso promoverá, no futuro, jogadores de futsal inteligentes, mas também o mais importante: pessoas confiantes, integradas, de bem consigo mesmas.




FONTE:PEDAGOGIA DO FUTSAL

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