Apesar de me referir às aulas de Educação Física, acredito que este texto sirva para profissionais desta ou de outra área, que se identificarem com o que escrevo, até porque no ambiente escolar ainda são poucas as instituições de educação infantil que tem em sua grade curricular a disciplina de Educação Física, porque a mesma acaba sendo substituída pelas chamadas modalidades extracurriculares como: dança, artes marciais,teatro, yoga, etc. Independente da disciplina ou modalidade a situação que encontramos é a seguinte: um adulto diante de crianças na primeira infância que não sabem o que fazer com seus corpinhos cheios de energia.
Além destes, há os professores de sala de aula, em especial aqueles que são responsáveis pela alfabetização que passam o dia todo tentando criar estratégias mirabolantes para prender a atenção da criançada ao conteúdo pedagógico, isso, sem falar daquelas dancinhas apresentadas em datas comemorativas.
Além de alfabetizar é preciso coreografar, ensaiar e dançar. Ufa! Não é fácil trabalhar com crianças.
Para qualquer que seja o professor sempre há aquela criança diferente, aquele grupinho que tumultua ou aquela turma da qual os professores fogem. Porque será?
Não podemos ignorar o fato de que existem comportamentos provenientes de neuropatologias, síndromes, déficits de desenvolvimento e das famosas: hiperatividade e a dislexia. Com relação às crianças que apresentam estes quadros, devidamente diagnosticados por médicos, em especial da área de neuropediatria, elas não devem ser consideradas crianças “problema”, pois o seu comportamento, ou seja, a falta de êxito pedagógico e/ou psicossocial é justificada por meio de laudos médicos e para cada caso se faz necessário um acompanhamento diferenciado e para isso uma equipe multidisciplinar, dentro e fora da escola, com profissionais que conheçam as características e necessidades de cada caso.
Então é que começam as dificuldades: professores diferenciados que conheçam as características e necessidades dessas neuropatologias. Quando o diagnóstico é dado fica mais fácil, porque com bastante pesquisa e boa vontade é possível realizar um bom trabalho que contribua com o desenvolvimento destas crianças, mas e quando não há diagnóstico? Quando os familiares não aceitam ou demoram a perceber que a sua criança não consegue acompanhar a turma ou possui comportamentos estranhos? Tudo fica mais difícil, principalmente, para a criança. Sendo assim, a escola tem um papel primordial, é preciso assertividade, clareza e empatia para indicar aos familiares o caminho a ser seguido, sem rotular ou discriminar, além disso, reconhecer as limitações pedagógicas da escola com relação à inclusão se for o caso.
A criança diferente não deve ser tratada com indiferença. Ela tem que estudar numa escola diferenciada com professores diferenciados e principalmente ter uma família diferenciada.
Mas e aquelas crianças que enlouquecem os professores, amam os tios da educação física, da dança, das lutas, mas mesmo assim estão sempre machucando alguém, quebrando alguma coisa, fazendo esquisitices durante a aula e às vezes sendo desrespeitosas? Estas, geralmente, são rotuladas como criança problema, que dá trabalho, que não tem mais jeito, que é agressiva ou que é “hiperativa”.
A criança só é problema para professores com dificuldades, pais com dificuldades e escola com dificuldades.
Imaginem um animal selvagem como um cervo ou um coelho, por exemplo, e que está preso, fora do seu mundo. O que acontece quando ele é solto??
Com a criança pequena não é diferente, ela precisa extravasar a sua energia através de movimentos amplos, verbalização exagerada com gritos ou estórias pessoais e como há uma constante sensação de que a liberdade pode acabar há qualquer momento, ela tenta fazer tudo ao mesmo tempo, muitas coisas e muitas sensações no menor espaço de tempo possível sem desperdiçar nenhuma oportunidade, mesmo que para isso seja preciso transgredir.
Mais uma vez eu bato na mesma tecla: a criança só apresenta os sintomas, quem tem problemas ou dificuldades são os adultos que não sabem como lidar com esta criança.
A criança é sem limites porque ninguém nunca mostrou quais são eles e o que são eles;
A criança é mimada porque seus pais sentem-se culpados;
A criança é agressiva porque não sabe o que é receber e dar afeto;
A criança é barulhenta porque dificilmente alguém presta atenção no que ela fala, porque todos gritam com ela ou talvez porque ela seja criança;
A criança é agitada demais porque ela é contida demais ou simplesmente porque é da sua natureza infantil;
A criança é desrespeitosa porque ninguém demonstrou respeito por ela;
A criança é passiva demais porque na sua casa todos são agressivos ou tão passivos que ela fica sem referência;
A criança é confiante demais porque as pessoas que a amam fazem com que ela acredite nisso; Enquanto outras são inseguras demais porque jogam tanta expectativa sobre ela que ela prefere não se arriscar com medo de errar.
Enfim, a criança não é nada disso, ela pode estar com um comportamento com as características mencionadas, mas é preciso que o professor reconheça a diferença entre SER e ESTAR. Esta é uma das maneiras de superar algumas das dificuldades ao lidar com crianças.
A capacitação profissional e a educação contínua dos professores ajudam a criar estratégias que auxiliem as crianças nesse processo.
O professor precisa estar bem física e psiquicamente, por isso investir numa formação pessoal é tão importante. Como é possível exigir ou esperar determinado comportamento se nunca vivenciarmos o que as crianças vivenciam?
Lembrem-se criança problema pode ser aquela com psicopatia, doenças que influenciem diretamente na sua índole, na sua incapacidade de praticar o bem, contudo acredito que o bem está no nosso DNA espiritual, é como uma semente pronta pra germinar, então se ela receber um pouquinho do que precisa todos os dias ela será uma criança boa, por isso enquanto for criança tudo é possível, nós adultos é que temos DIFICULDADES para reconhecer isso.
Outra dificuldade que encontramos enquanto professores, especialmente, de educação física ou de qualquer atividade em que utilizamos o corpo e o movimento como instrumento de ensino-aprendizagem é com relação aos recursos materiais, as escolas privadas investem o mínimo ou terceirizam o serviço e as escolas públicas??
No país do futebol, a maioria das escolas públicas de ensino fundamental não têm quadra nem bola e é importante não esquecer que, atualmente, no 1º ano do ensino fundamental temos crianças com 5 e 6 anos. Com isso visualizamos a situação com relação ao investimento que é feito para a Educação física escolar, esta é uma dificuldade enfrentada pelo professor, fica difícil ganhar a atenção das crianças já que em muitas escolas a Educação Física não é vista como uma disciplina importante. A autoestima do professor fica baixa e tudo fica pior. Mas vale lembrar que o recurso humano é o mais importante, o mais valioso e que as dificuldades nos fortalece.
fonte:http://www.educacaofisica.com.br/noticias/crianca-problema-ou-professor-com-dificuldades/
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