quinta-feira, 10 de março de 2016

Criança problema ou professor com dificuldades?


Apesar de me referir às aulas de Educação Física, acredito que este texto sirva para profissionais desta ou de outra área, que se identificarem com o que escrevo, até porque no ambiente escolar ainda são poucas as instituições de educação infantil que tem em sua grade curricular a disciplina de Educação Física, porque a mesma acaba sendo substituída pelas chamadas modalidades extracurriculares como: dança, artes marciais,teatro, yoga, etc. Independente da disciplina ou modalidade a situação que encontramos é a seguinte: um adulto diante de crianças na primeira infância que não sabem o que fazer com seus corpinhos cheios de energia.
Além destes, há os professores de sala de aula, em especial aqueles que são responsáveis pela alfabetização que passam o dia todo tentando criar estratégias mirabolantes para prender a atenção da criançada ao conteúdo pedagógico, isso, sem falar daquelas dancinhas apresentadas em datas comemorativas.
Além de alfabetizar é preciso coreografar, ensaiar e dançar. Ufa! Não é fácil trabalhar com crianças.
Para qualquer que seja o professor sempre há aquela criança diferente, aquele grupinho que tumultua ou aquela turma da qual os professores fogem. Porque será?
Não podemos ignorar o fato de que existem comportamentos provenientes de neuropatologias, síndromes, déficits de desenvolvimento e das famosas: hiperatividade e a dislexia. Com relação às crianças que apresentam estes quadros, devidamente diagnosticados por médicos, em especial da área de neuropediatria, elas não devem ser consideradas crianças “problema”, pois o seu comportamento, ou seja, a falta de êxito pedagógico e/ou psicossocial é justificada por meio de laudos médicos e para cada caso se faz necessário um acompanhamento diferenciado e para isso uma equipe multidisciplinar, dentro e fora da escola, com profissionais que conheçam as características e necessidades de cada caso.
Então é que começam as dificuldades: professores diferenciados que conheçam as características e necessidades dessas neuropatologias. Quando o diagnóstico é dado fica mais fácil, porque com bastante pesquisa e boa vontade é possível realizar um bom trabalho que contribua com o desenvolvimento destas crianças, mas e quando não há diagnóstico? Quando os familiares não aceitam ou demoram a perceber que a sua criança não consegue acompanhar a turma ou possui comportamentos estranhos? Tudo fica mais difícil, principalmente, para a criança. Sendo assim, a escola tem um papel primordial, é preciso assertividade, clareza e empatia para indicar aos familiares o caminho a ser seguido, sem rotular ou discriminar, além disso, reconhecer as limitações pedagógicas da escola com relação à inclusão se for o caso.
A criança diferente não deve ser tratada com indiferença. Ela tem que estudar numa escola diferenciada com professores diferenciados e principalmente ter uma família diferenciada.
Mas e aquelas crianças que enlouquecem os professores, amam os tios da educação física, da dança, das lutas, mas mesmo assim estão sempre machucando alguém, quebrando alguma coisa, fazendo esquisitices durante a aula e às vezes sendo desrespeitosas? Estas, geralmente, são rotuladas como criança problema, que dá trabalho, que não tem mais jeito, que é agressiva ou que é “hiperativa”.
A criança só é problema para professores com dificuldades, pais com dificuldades e escola com dificuldades.
Imaginem um animal selvagem como um cervo ou um coelho, por exemplo, e que está preso, fora do seu mundo. O que acontece quando ele é solto??
Com a criança pequena não é diferente, ela precisa extravasar a sua energia através de movimentos amplos, verbalização exagerada com gritos ou estórias pessoais e como há uma constante sensação de que a liberdade pode acabar há qualquer momento, ela tenta fazer tudo ao mesmo tempo, muitas coisas e muitas sensações no menor espaço de tempo possível sem desperdiçar nenhuma oportunidade, mesmo que para isso seja preciso transgredir.
Mais uma vez eu bato na mesma tecla: a criança só apresenta os sintomas, quem tem problemas ou dificuldades são os adultos que não sabem como lidar com esta criança.
A criança é sem limites porque ninguém nunca mostrou quais são eles e o que são eles;
A criança é mimada porque seus pais sentem-se culpados;
A criança é agressiva porque não sabe o que é receber e dar afeto;
A criança é barulhenta porque dificilmente alguém presta atenção no que ela fala, porque todos gritam com ela ou talvez porque ela seja criança;
A criança é agitada demais porque ela é contida demais ou simplesmente porque é da sua natureza infantil;
A criança é desrespeitosa porque ninguém demonstrou respeito por ela;
A criança é passiva demais porque na sua casa todos são agressivos ou tão passivos que ela fica sem referência;
A criança é confiante demais porque as pessoas que a amam fazem com que ela acredite nisso; Enquanto outras são inseguras demais porque jogam tanta expectativa sobre ela que ela prefere não se arriscar com medo de errar.
Enfim, a criança não é nada disso, ela pode estar com um comportamento com as características mencionadas, mas é preciso que o professor reconheça a diferença entre SER e ESTAR. Esta é uma das maneiras de superar algumas das dificuldades ao lidar com crianças.
A capacitação profissional e a educação contínua dos professores ajudam a criar estratégias que auxiliem as crianças nesse processo.
O professor precisa estar bem física e psiquicamente, por isso investir numa formação pessoal é tão importante. Como é possível exigir ou esperar determinado comportamento se nunca vivenciarmos o que as crianças vivenciam?
Lembrem-se criança problema pode ser aquela com psicopatia, doenças que influenciem diretamente na sua índole, na sua incapacidade de praticar o bem, contudo acredito que o bem está no nosso DNA espiritual, é como uma semente pronta pra germinar, então se ela receber um pouquinho do que precisa todos os dias ela será uma criança boa, por isso enquanto for criança tudo é possível, nós adultos é que temos DIFICULDADES para reconhecer isso.
Outra dificuldade que encontramos enquanto professores, especialmente, de educação física ou de qualquer atividade em que utilizamos o corpo e o movimento como instrumento de ensino-aprendizagem é com relação aos recursos materiais, as escolas privadas investem o mínimo ou terceirizam o serviço e as escolas públicas??
No país do futebol, a maioria das escolas públicas de ensino fundamental não têm quadra nem bola e é importante não esquecer que, atualmente, no 1º ano do ensino fundamental temos crianças com 5 e 6 anos. Com isso visualizamos a situação com relação ao investimento que é feito para a Educação física escolar, esta é uma dificuldade enfrentada pelo professor, fica difícil ganhar a atenção das crianças já que em muitas escolas a Educação Física não é vista como uma disciplina importante. A autoestima do professor fica baixa e tudo fica pior. Mas vale lembrar que o recurso humano é o mais importante, o mais valioso e que as dificuldades nos fortalece.

fonte:http://www.educacaofisica.com.br/noticias/crianca-problema-ou-professor-com-dificuldades/

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