sábado, 9 de março de 2013

O Sistema Braille no Brasil



O Sistema Braille, utilizado universalmente na leitura e na 
escrita por pessoas cegas, foi inventado na França por 
Louis Braille, um jovem cego, reconhecendo-se o 
ano de 1825 como o marco dessa importante conquista
para a educação e a integração dos deficientes visuais 
na sociedade.

Antes desse histórico invento, registram-se inúmeras

 tentativas em diferentes países, no sentido de se 
encontrarem meios que proporcionassem às pessoas
 cegas condições de ler e escrever. Dentre essas tentativas,
 destaca-se o processo de representação dos caracteres
 comuns com linhas em alto relevo, adaptado pelo francês
 Valentin Hauy, fundador da primeira escola para cegos
 no mundo, em 1784, na cidade de Paris, denominada 
Instituto Real dos Jovens Cegos. Foi nesta escola, 
onde os estudantes cegos tinham acesso apenas à leitura,
 através do processo de Valentin Hauy, que estudou 
Louis Braille. Até então, não havia recurso que permitisse
 à pessoa cega comunicar-se pela escrita individual.

Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento 

de uma invenção denominada sonografia ou código militar, 
desenvolvida por Charles Barbier, oficial do exército francês. 
O invento tinha como objetivo possibilitar a comunicação noturna
entre oficiais nas campanhas de guerra. Baseava-se em 
doze sinais, compreendendo linhas e pontos salientes, representando
sílabas na língua francesa. 
O invento de Barbier não logrou êxito no que se propunha, inicialmente. 
O bem intencionado oficial levou seu invento 
para ser experimentado entre as pessoas cegas do 
Instituto Real dos Jovens Cegos.

A significação tátil dos pontos em relevo do invento de 

Barbier foi a base para a criação do Sistema Braille, 
aplicável tanto na leitura como na escrita por pessoas 
cegas e cuja estrutura diverge fundamentalmente do 
processo que inspirou seu inventor.
O Sistema Braille,utilizando seis pontos em relevo, 
dispostos em duas colunas, possibilita a formação de 
63 símbolos diferentes que são empregados em textos 
literários nos diversos idiomas, como também nas 
simbologias matemática e científica, em geral, 
na música e, recentemente, na Informática.

A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu 

autor desenvolveu estudos que resultaram, em 1837, 
na proposta que definiu a estrutura básica do sistema,
 ainda hoje utilizada mundialmente. 
Comprovadamente, o Sistema Braille teve plena aceitação 
por parte das pessoas cegas, tendo-se registrado, 
no entanto, algumas tentativas para a adoção de outras 
formas de leitura e escrita e, ainda outras, sem resultado 
prático, para aperfeiçoamento da invenção de Louis Braille.

Apesar de algumas resistências mais ou menos

 prolongadas em outros países da Europa e nos
 Estados Unidos, o Sistema Braille, por sua eficiência 
e vasta aplicabilidade, se impôs definitivamente como 
o melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas.

Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris, 

com a participação de onze países europeus e dos 
Estados Unidos, estabeleceu que o Sistema Braille deveria 
ser adotado de forma padronizada, para uso na literatura, 
exatamente de acordo com a proposta de estrutura do 
sistema, apresentada por Louis Braille em 1837,
já referida anteriormente.

Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as 

notações musicais foram, também, apresentados pelo 
próprio Louis Braille na versão final dos estudos constantes
 da proposta de estrutura do Sistema concluída em 1837.

Hoje, a musicografia braille‚ já é adotada uniformemente

 por todos os países. Para tanto, contribuíram, 
principalmente, os congressos realizados em Colônia
 (Alemanha), 1888, em Paris (França), 1929 e, finalmente, 
num congresso realizado em Nova Iorque, 1954, onde 
foram adaptados símbolos, de acordo com novas 
exigências da musicografia.

A aplicação do Sistema Braille à Matemática foi também 

proposta por seu inventor na versão do Sistema editada
 em 1837. Nesta, foram apresentados os símbolos 
fundamentais para os algarismos, bem como as 
convenções para a Aritmética e para a Geometria.

Esta simbologia fundamental, entretanto, nem sempre

 foi adotada nos países que vieram a utilizar o Sistema 
Braille, verificando-se, posteriormente, diferenças regionais 
e locais mais ou menos acentuadas, chegando a prevalecer,
 como hoje, diversos códigos para a Matemática e 
as ciências em todo o mundo.

Com o propósito de unificar a simbologia braille para a

 Matemática e as ciências, realizou-se na cidade de Viena,
 em 1929, um congresso, reunindo países da Europa e 
os Estados Unidos. Apesar desse esforço, a falta de acordo 
fez com que continuassem a prevalecer as divergências, 
que se acentuaram, face à necessidade de adoção 
de novos símbolos, determinada pela evolução técnica
 e científica do século XX.

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, 

criado em 1952, hoje União Mundial dos Cegos, 
com apoio da UNESCO, passou a se preocupar, através 
de seus especialistas, com o problema da unificação 
da simbologia matemática e científica, a nível mundial.

Com esse propósito, a Organização Nacional de Cegos 

da Espanha (ONCE), em princípios da década de 1970, 
desenvolveu estudos, através da análise e comparação
 de diferentes códigos em uso no mundo, para, finalmente, 
propor um código unificado a que denominou "Notacion 
Universal".

A Conferência Ibero-Americana para a Unificação do 

Sistema Braille, realizada em Buenos Aires, 1973, 
foi uma tentativa de se estabelecer um código único 
para países de língua castelhana e portuguesa.
Na oportunidade, foram apresentados três trabalhos,
 elaborados pela Espanha, Argentina e Brasil. 
A acentuada divergência entre os códigos inviabilizou 
um desejável acordo.

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, 

reunido por seu Comitê-Executivo na cidade de Riyadh, 
Arábia-Saudita (1977), criou o Subcomitê de Matemáticas 
e Ciências, integrado por representantes da Espanha,
 Estados Unidos, União Soviética, Alemanha Ocidental 
e Inglaterra, com a finalidade principal de promover,
 em diferentes países, estudos e experiências de âmbito 
nacional e regional, visando a unificação dos diversos
códigos em uso.

A nível de países de língua castelhana, finalmente,

 foi possível um acordo para a unificação da simbologia 
matemática, celebrado em 1987 na cidade de Montevidéu, 
durante uma reunião de representantes de imprensas 
braille dos países que falam o referido idioma. 
A esta reunião compareceram representantes brasileiros, 
como observadores.

A nível mundial, o esforço para a unificação dos códigos 

matemáticos e científicos ainda não alcançou o 
êxito desejado.

Especialistas no Sistema Braille do Brasil, especialmente

 ligados ao Instituto Benjamin Constant e à, hoje,
 Fundação Dorina Nowill para Cegos, a partir da década 
de 70, passaram a se preocupar com as vantagens que 
adviriam da unificação dos códigos de Matemática e 
das ciências, uma vez que a tabela Taylor, adotada
no Brasil desde a década de 40, já não vinha 
atendendo satisfatoriamente à transcrição em Braille, 
sobretudo, após a introdução dos símbolos da Matemática
 Moderna, revelando-se esta tabela, insuficiente para as 
representações matemáticas e científicas em nível superior.

Deste modo, o Brasil participou inicialmente dos 

estudos desenvolvidos pelo Comitê de especialistas 
da ONCE e, posteriormente, acompanhou os estudos 
desenvolvidos pelo Comitê da ONCE, deles resultando
 o Código de Matemática Unificado.

Em 1991 foi criada a Comissão para Estudo e Atualização 

do Sistema Braille em uso no Brasil, com a participação 
de especialistas representantes do Instituto Benjamin 
Constant, da Fundação Dorina Nowill para Cegos, 
do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, 
da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes
 Visuais e da Federação Brasileira de Entidades de 
Cegos, com o apoio da União Brasileira de Cegos e o 
patrocínio do Fundo de Cooperação Econômica para
 Iberoamérica - ONCE-ULAC. Os estudos desta comissão
 foram concluídos em 18 de maio de 1994, constando 
das principais resoluções a de se adotar no Brasil o 
Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana, 
com as necessárias adaptações à realidade brasileira.

Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas 

da Comissão na área da Matemática vêm realizando 
estudos para o estabelecimento de estratégias, visando
 a implantação, em todo o território brasileiro, da 
nova simbologia matemática unificada.

Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema 

Braille no Brasil pode ser abordada em três períodos 
distintos:

1854 a 1942 - Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no 

Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto 
Benjamin Constant), sendo assim, a primeira instituição na 
América Latina a utilizá-lo. Deve-se isto aos esforços de
 José Alvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro, 
que o havia aprendido na França.

Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve

 plena aceitação no Brasil, utilizando-se praticamente 
toda a simbologia usada na França. A exemplo de outros 
países, o Brasil passou a empregar, na íntegra, o código 
internacional de musicografia braille de 1929.

1942 a 1963 - Neste período verificaram-se algumas 

alterações na simbologia braille em uso no Brasil. 
Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa 
de 1942, o antigo alfabeto braille de origem francesa
 foi adaptado às novas necessidades de nossa língua, 
especialmente para a representação de símbolos 
indicativos de acentos diferenciais.

Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais

 matemáticos, de origem inglesa, em substituição 
à simbologia francesa até então empregada.

A Portaria no. 552, de 13 de novembro de 1945,

 estabeleceu o Braille Oficial para uso no Brasil, 
além de um código de abreviaturas, da autoria do 
professor José Espínola Veiga. Esta abreviatura teve
 uso restrito, entrando em desuso, posteriormente.

A Lei no. 4.169, de 4 de dezembro de 1962, que oficializou 

as convenções braille para uso na escrita e leitura dos 
cegos, além de um código de contrações e abreviaturas 
braille, veio a criar dificuldades para o estabelecimento 
de acordos internacionais, pelo que, especialistas 
brasileiros optaram por alterar seus conteúdos, 
em benefício da unificação do Sistema Braille.

1963 a 1995 - Os fatos marcantes deste período podem 

ser assim destacados: em 05 de janeiro de 1963 foi 
assinado um convênio luso-brasileiro, entre as mais 
importantes entidades dos dois países, para a padronização
 do Braille integral (grau 1) e para a adoção, no Brasil,
de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal.

Em relação à Matemática, educadores e técnicos da 

Fundação para o Livro do Cego no Brasil e do Instituto 
Benjamin Constant, principalmente, complementaram 
a tabela Taylor com o acréscimo de símbolos braille 
aplicáveis à teoria de conjuntos.

A atuação profissional de pessoas cegas no campo da 

Informática, a partir da década de 70, fez com que 
surgissem diferentes formas de representação em Braille
 desta matéria, com base, sobretudo, em publicações 
estrangeiras. A nível de imprensas e centros de produção 
de Braille, finalmente, foi acordada em 1994, a adoção
 de uma tabela unificada para a Informática.

Durante todo este período, o Brasil participou dos esforços

 do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos 
(hoje, União Mundial de Cegos) para a atualização 
e a unificação do Sistema Braille, como o demonstram
a contribuição brasileira à Conferência Íbero-Americana 
para Unificação do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973),
a participação de técnicos brasileiros, como observadores, 
na Reunião de Imprensas Braille de Países de Língua 
Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão 
para Estudo e Atualização do Sistema Braille em 
Uso no Brasil (1991-1994), a atuação de especialistas
 brasileiros na Conferência: O Sistema Braille Aplicado 
à Língua Portuguesa (Lisboa, 1994), além de outras 
iniciativas e atividades desenvolvidas. Destaque-se, 
em todo este período, o trabalho conjunto da, hoje,
 Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto 
Benjamin Constant, através de seus especialistas, 
aos quais se reuniram, muitas vezes, competentes 
profissionais de outras importantes entidades brasileiras.

As tentativas de destacadas entidades de e para cegos, 

no sentido de se criar, em âmbito federal, uma comissão
 nacional de Braille não foram bem sucedidas.
 O insucesso, porém, foi certamente compensado pelo 
trabalho profícuo e harmonioso dos especialistas em 
Braille do Brasil.

A União Brasileira de Cegos, na assembléia-geral ordinária

 de 28 de agosto de 1995, realizada no Instituto Benjamin 
Constant, homologou a criação, no âmbito dessa entidade,
da Comissão Brasileira de Braille, constituída de cinco 
membros.

Os membros da Comissão deverão atender aos critérios 

de serem, preferentemente, usuários do Sistema Braille 
e de terem conhecimento e experiência reconhecidos 
no campo da produção de material braille e da educação
de cegos.

FINALIDADES DA COMISSÃO BRASILEIRA DE

  BRAILLE



1 - Propor às autoridades competentes e diligenciar por 

sua execução, a nível nacional, a política de diretrizes e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do 
Sistema Braille em todas as suas modalidades de 
aplicação, compreendendo, especialmente, a Língua
 Portuguesa, a Matemática e outras ciências, a Música
 e a Informática.

2 - Propor ao Governo Federal a promulgação de leis,

a edição de decretos e regulamentações concernentes
ao uso do Sistema Braille no Brasil, visando, inclusive,
 a unificação das aplicações do referido Sistema a nível 
internacional, especialmente nas línguas portuguesa e
castelhana.

3 - Cumprir e fazer cumprir, no que lhe couber, 

os acordos internacionais referentes ao uso do Sistema
Braille.

4 - Funcionar como equipe técnica de assessoria sobre 

questões eletivas ao uso do Sistema Braille, junto a 
entidades públicas e privadas.

5 - Avaliar, permanentemente, a simbologia braille adotada

 no país, atentando para a necessidade de adaptá-la ou 
alterá-la, face à evolução técnica e científica, 
particularmente, procurando compatibilizar esta
 simbologia, sempre que possível, com as adotadas 
nos países de línguas portuguesa e castelhana.

6 - Manter intercâmbio permanente com comissões de 

Braille de outros países, de acordo com a política 
de unificação do Sistema Braille, a nível internacional.

7 - Estabelecer, com base em estudos realizados, 

conteúdos, metodologias e estratégias a serem adotados
 em cursos de aprendizagem do Sistema Braille com 
caráter de especialização, treinamento e reciclagem de 
professores e de técnicos, como também nos cursos 
destinados a usuários do Sistema e à comunidade, 
em geral.

8 - Estabelecer critérios e fixar estratégias para a 

implantação de novas simbologias braille que alterem
 ou substituam os códigos em uso no Brasil, prevendo 
a realização de avaliações sistemáticas com vistas a 
modificações de procedimentos, sempre que necessário.

9 - Manter, com objetivos de estudo e de pesquisa, 

acervo bibliográfico de origem nacional e estrangeira, 
acerca do Sistema Braille, compreendendo códigos, 
manuais, tabelas e outras publicações afins.

10 - Elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras 

publicações que facilitem o processo ensino-aprendizagem 
e o uso do Sistema Braille em todo o território nacional.

Esta iniciativa da União Brasileira de Cegos nivela o Brasil

 com os países em que as questões referentes à leitura 
e à escrita das pessoas cegas são da competência de
 verdadeiras "Autoridades Braille".

Edison Ribeiro Lemos - Ex professor do Instituto 

Benjamin Constant, advogado, Livre Docente em
Educação, Presidente do Conselho Brasileiro para o 
Bem Estar dos Cegos e Coordenador da Comissão 
Brasileira de Braille.

Jonir Bechara Cerqueira - Professor, ex Diretor Geral 

do Instituto Benjamin Constant e membro da Comissão
Brasileira de Braille e do Conselho Editorial da Revista
Benjamin Constant.
FONTE:http://www.ibc.gov.br

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