O Sistema Braille, utilizado universalmente na leitura e na
escrita por pessoas cegas, foi inventado na França por
Louis Braille, um jovem cego, reconhecendo-se o
ano de 1825 como o marco dessa importante conquista
para a educação e a integração dos deficientes visuais
na sociedade.
Antes desse histórico invento, registram-se inúmeras
tentativas em diferentes países, no sentido de se
encontrarem meios que proporcionassem às pessoas
cegas condições de ler e escrever. Dentre essas tentativas,
destaca-se o processo de representação dos caracteres
comuns com linhas em alto relevo, adaptado pelo francês
Valentin Hauy, fundador da primeira escola para cegos
no mundo, em 1784, na cidade de Paris, denominada
Instituto Real dos Jovens Cegos. Foi nesta escola,
onde os estudantes cegos tinham acesso apenas à leitura,
através do processo de Valentin Hauy, que estudou
Louis Braille. Até então, não havia recurso que permitisse
à pessoa cega comunicar-se pela escrita individual.
Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento
de uma invenção denominada sonografia ou código militar,
desenvolvida por Charles Barbier, oficial do exército francês.
O invento tinha como objetivo possibilitar a comunicação noturna
entre oficiais nas campanhas de guerra. Baseava-se em
doze sinais, compreendendo linhas e pontos salientes, representando
sílabas na língua francesa.
O invento de Barbier não logrou êxito no que se propunha, inicialmente.
O bem intencionado oficial levou seu invento
para ser experimentado entre as pessoas cegas do
Instituto Real dos Jovens Cegos.
A significação tátil dos pontos em relevo do invento de
Barbier foi a base para a criação do Sistema Braille,
aplicável tanto na leitura como na escrita por pessoas
cegas e cuja estrutura diverge fundamentalmente do
processo que inspirou seu inventor.
O Sistema Braille,utilizando seis pontos em relevo,
dispostos em duas colunas, possibilita a formação de
63 símbolos diferentes que são empregados em textos
literários nos diversos idiomas, como também nas
simbologias matemática e científica, em geral,
na música e, recentemente, na Informática.
A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu
autor desenvolveu estudos que resultaram, em 1837,
na proposta que definiu a estrutura básica do sistema,
ainda hoje utilizada mundialmente.
Comprovadamente, o Sistema Braille teve plena aceitação
por parte das pessoas cegas, tendo-se registrado,
no entanto, algumas tentativas para a adoção de outras
formas de leitura e escrita e, ainda outras, sem resultado
prático, para aperfeiçoamento da invenção de Louis Braille.
Apesar de algumas resistências mais ou menos
prolongadas em outros países da Europa e nos
Estados Unidos, o Sistema Braille, por sua eficiência
e vasta aplicabilidade, se impôs definitivamente como
o melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas.
Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris,
com a participação de onze países europeus e dos
Estados Unidos, estabeleceu que o Sistema Braille deveria
ser adotado de forma padronizada, para uso na literatura,
exatamente de acordo com a proposta de estrutura do
sistema, apresentada por Louis Braille em 1837,
já referida anteriormente.
Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as
notações musicais foram, também, apresentados pelo
próprio Louis Braille na versão final dos estudos constantes
da proposta de estrutura do Sistema concluída em 1837.
Hoje, a musicografia braille‚ já é adotada uniformemente
por todos os países. Para tanto, contribuíram,
principalmente, os congressos realizados em Colônia
(Alemanha), 1888, em Paris (França), 1929 e, finalmente,
num congresso realizado em Nova Iorque, 1954, onde
foram adaptados símbolos, de acordo com novas
exigências da musicografia.
A aplicação do Sistema Braille à Matemática foi também
proposta por seu inventor na versão do Sistema editada
em 1837. Nesta, foram apresentados os símbolos
fundamentais para os algarismos, bem como as
convenções para a Aritmética e para a Geometria.
Esta simbologia fundamental, entretanto, nem sempre
foi adotada nos países que vieram a utilizar o Sistema
Braille, verificando-se, posteriormente, diferenças regionais
e locais mais ou menos acentuadas, chegando a prevalecer,
como hoje, diversos códigos para a Matemática e
as ciências em todo o mundo.
Com o propósito de unificar a simbologia braille para a
Matemática e as ciências, realizou-se na cidade de Viena,
em 1929, um congresso, reunindo países da Europa e
os Estados Unidos. Apesar desse esforço, a falta de acordo
fez com que continuassem a prevalecer as divergências,
que se acentuaram, face à necessidade de adoção
de novos símbolos, determinada pela evolução técnica
e científica do século XX.
O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos,
criado em 1952, hoje União Mundial dos Cegos,
com apoio da UNESCO, passou a se preocupar, através
de seus especialistas, com o problema da unificação
da simbologia matemática e científica, a nível mundial.
Com esse propósito, a Organização Nacional de Cegos
da Espanha (ONCE), em princípios da década de 1970,
desenvolveu estudos, através da análise e comparação
de diferentes códigos em uso no mundo, para, finalmente,
propor um código unificado a que denominou "Notacion
Universal".
A Conferência Ibero-Americana para a Unificação do
Sistema Braille, realizada em Buenos Aires, 1973,
foi uma tentativa de se estabelecer um código único
para países de língua castelhana e portuguesa.
Na oportunidade, foram apresentados três trabalhos,
elaborados pela Espanha, Argentina e Brasil.
A acentuada divergência entre os códigos inviabilizou
um desejável acordo.
O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos,
reunido por seu Comitê-Executivo na cidade de Riyadh,
Arábia-Saudita (1977), criou o Subcomitê de Matemáticas
e Ciências, integrado por representantes da Espanha,
Estados Unidos, União Soviética, Alemanha Ocidental
e Inglaterra, com a finalidade principal de promover,
em diferentes países, estudos e experiências de âmbito
nacional e regional, visando a unificação dos diversos
códigos em uso.
A nível de países de língua castelhana, finalmente,
foi possível um acordo para a unificação da simbologia
matemática, celebrado em 1987 na cidade de Montevidéu,
durante uma reunião de representantes de imprensas
braille dos países que falam o referido idioma.
A esta reunião compareceram representantes brasileiros,
como observadores.
A nível mundial, o esforço para a unificação dos códigos
matemáticos e científicos ainda não alcançou o
êxito desejado.
Especialistas no Sistema Braille do Brasil, especialmente
ligados ao Instituto Benjamin Constant e à, hoje,
Fundação Dorina Nowill para Cegos, a partir da década
de 70, passaram a se preocupar com as vantagens que
adviriam da unificação dos códigos de Matemática e
das ciências, uma vez que a tabela Taylor, adotada
no Brasil desde a década de 40, já não vinha
atendendo satisfatoriamente à transcrição em Braille,
sobretudo, após a introdução dos símbolos da Matemática
Moderna, revelando-se esta tabela, insuficiente para as
representações matemáticas e científicas em nível superior.
Deste modo, o Brasil participou inicialmente dos
estudos desenvolvidos pelo Comitê de especialistas
da ONCE e, posteriormente, acompanhou os estudos
desenvolvidos pelo Comitê da ONCE, deles resultando
o Código de Matemática Unificado.
Em 1991 foi criada a Comissão para Estudo e Atualização
do Sistema Braille em uso no Brasil, com a participação
de especialistas representantes do Instituto Benjamin
Constant, da Fundação Dorina Nowill para Cegos,
do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos,
da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes
Visuais e da Federação Brasileira de Entidades de
Cegos, com o apoio da União Brasileira de Cegos e o
patrocínio do Fundo de Cooperação Econômica para
Iberoamérica - ONCE-ULAC. Os estudos desta comissão
foram concluídos em 18 de maio de 1994, constando
das principais resoluções a de se adotar no Brasil o
Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana,
com as necessárias adaptações à realidade brasileira.
Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas
da Comissão na área da Matemática vêm realizando
estudos para o estabelecimento de estratégias, visando
a implantação, em todo o território brasileiro, da
nova simbologia matemática unificada.
Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema
Braille no Brasil pode ser abordada em três períodos
distintos:
1854 a 1942 - Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no
Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto
Benjamin Constant), sendo assim, a primeira instituição na
América Latina a utilizá-lo. Deve-se isto aos esforços de
José Alvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro,
que o havia aprendido na França.
Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve
plena aceitação no Brasil, utilizando-se praticamente
toda a simbologia usada na França. A exemplo de outros
países, o Brasil passou a empregar, na íntegra, o código
internacional de musicografia braille de 1929.
1942 a 1963 - Neste período verificaram-se algumas
alterações na simbologia braille em uso no Brasil.
Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa
de 1942, o antigo alfabeto braille de origem francesa
foi adaptado às novas necessidades de nossa língua,
especialmente para a representação de símbolos
indicativos de acentos diferenciais.
Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais
matemáticos, de origem inglesa, em substituição
à simbologia francesa até então empregada.
A Portaria no. 552, de 13 de novembro de 1945,
estabeleceu o Braille Oficial para uso no Brasil,
além de um código de abreviaturas, da autoria do
professor José Espínola Veiga. Esta abreviatura teve
uso restrito, entrando em desuso, posteriormente.
A Lei no. 4.169, de 4 de dezembro de 1962, que oficializou
as convenções braille para uso na escrita e leitura dos
cegos, além de um código de contrações e abreviaturas
braille, veio a criar dificuldades para o estabelecimento
de acordos internacionais, pelo que, especialistas
brasileiros optaram por alterar seus conteúdos,
em benefício da unificação do Sistema Braille.
1963 a 1995 - Os fatos marcantes deste período podem
ser assim destacados: em 05 de janeiro de 1963 foi
assinado um convênio luso-brasileiro, entre as mais
importantes entidades dos dois países, para a padronização
do Braille integral (grau 1) e para a adoção, no Brasil,
de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal.
Em relação à Matemática, educadores e técnicos da
Fundação para o Livro do Cego no Brasil e do Instituto
Benjamin Constant, principalmente, complementaram
a tabela Taylor com o acréscimo de símbolos braille
aplicáveis à teoria de conjuntos.
A atuação profissional de pessoas cegas no campo da
Informática, a partir da década de 70, fez com que
surgissem diferentes formas de representação em Braille
desta matéria, com base, sobretudo, em publicações
estrangeiras. A nível de imprensas e centros de produção
de Braille, finalmente, foi acordada em 1994, a adoção
de uma tabela unificada para a Informática.
Durante todo este período, o Brasil participou dos esforços
do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos
(hoje, União Mundial de Cegos) para a atualização
e a unificação do Sistema Braille, como o demonstram
a contribuição brasileira à Conferência Íbero-Americana
para Unificação do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973),
a participação de técnicos brasileiros, como observadores,
na Reunião de Imprensas Braille de Países de Língua
Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão
para Estudo e Atualização do Sistema Braille em
Uso no Brasil (1991-1994), a atuação de especialistas
brasileiros na Conferência: O Sistema Braille Aplicado
à Língua Portuguesa (Lisboa, 1994), além de outras
iniciativas e atividades desenvolvidas. Destaque-se,
em todo este período, o trabalho conjunto da, hoje,
Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto
Benjamin Constant, através de seus especialistas,
aos quais se reuniram, muitas vezes, competentes
profissionais de outras importantes entidades brasileiras.
As tentativas de destacadas entidades de e para cegos,
no sentido de se criar, em âmbito federal, uma comissão
nacional de Braille não foram bem sucedidas.
O insucesso, porém, foi certamente compensado pelo
trabalho profícuo e harmonioso dos especialistas em
Braille do Brasil.
A União Brasileira de Cegos, na assembléia-geral ordinária
de 28 de agosto de 1995, realizada no Instituto Benjamin
Constant, homologou a criação, no âmbito dessa entidade,
da Comissão Brasileira de Braille, constituída de cinco
membros.
Os membros da Comissão deverão atender aos critérios
de serem, preferentemente, usuários do Sistema Braille
e de terem conhecimento e experiência reconhecidos
no campo da produção de material braille e da educação
de cegos.
1 - Propor às autoridades competentes e diligenciar por
sua execução, a nível nacional, a política de diretrizes e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do
Sistema Braille em todas as suas modalidades de
aplicação, compreendendo, especialmente, a Língua
Portuguesa, a Matemática e outras ciências, a Música
e a Informática.
2 - Propor ao Governo Federal a promulgação de leis,
a edição de decretos e regulamentações concernentes
ao uso do Sistema Braille no Brasil, visando, inclusive,
a unificação das aplicações do referido Sistema a nível
internacional, especialmente nas línguas portuguesa e
castelhana.
3 - Cumprir e fazer cumprir, no que lhe couber,
os acordos internacionais referentes ao uso do Sistema
Braille.
4 - Funcionar como equipe técnica de assessoria sobre
questões eletivas ao uso do Sistema Braille, junto a
entidades públicas e privadas.
5 - Avaliar, permanentemente, a simbologia braille adotada
no país, atentando para a necessidade de adaptá-la ou
alterá-la, face à evolução técnica e científica,
particularmente, procurando compatibilizar esta
simbologia, sempre que possível, com as adotadas
nos países de línguas portuguesa e castelhana.
6 - Manter intercâmbio permanente com comissões de
Braille de outros países, de acordo com a política
de unificação do Sistema Braille, a nível internacional.
7 - Estabelecer, com base em estudos realizados,
conteúdos, metodologias e estratégias a serem adotados
em cursos de aprendizagem do Sistema Braille com
caráter de especialização, treinamento e reciclagem de
professores e de técnicos, como também nos cursos
destinados a usuários do Sistema e à comunidade,
em geral.
8 - Estabelecer critérios e fixar estratégias para a
implantação de novas simbologias braille que alterem
ou substituam os códigos em uso no Brasil, prevendo
a realização de avaliações sistemáticas com vistas a
modificações de procedimentos, sempre que necessário.
9 - Manter, com objetivos de estudo e de pesquisa,
acervo bibliográfico de origem nacional e estrangeira,
acerca do Sistema Braille, compreendendo códigos,
manuais, tabelas e outras publicações afins.
10 - Elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras
publicações que facilitem o processo ensino-aprendizagem
e o uso do Sistema Braille em todo o território nacional.
Esta iniciativa da União Brasileira de Cegos nivela o Brasil
com os países em que as questões referentes à leitura
e à escrita das pessoas cegas são da competência de
verdadeiras "Autoridades Braille".
Edison Ribeiro Lemos - Ex professor do Instituto
Benjamin Constant, advogado, Livre Docente em
Educação, Presidente do Conselho Brasileiro para o
Bem Estar dos Cegos e Coordenador da Comissão
Brasileira de Braille.
Jonir Bechara Cerqueira - Professor, ex Diretor Geral
do Instituto Benjamin Constant e membro da Comissão
Brasileira de Braille e do Conselho Editorial da Revista
Benjamin Constant.
escrita por pessoas cegas, foi inventado na França por
Louis Braille, um jovem cego, reconhecendo-se o
ano de 1825 como o marco dessa importante conquista
para a educação e a integração dos deficientes visuais
na sociedade.
Antes desse histórico invento, registram-se inúmeras
tentativas em diferentes países, no sentido de se
encontrarem meios que proporcionassem às pessoas
cegas condições de ler e escrever. Dentre essas tentativas,
destaca-se o processo de representação dos caracteres
comuns com linhas em alto relevo, adaptado pelo francês
Valentin Hauy, fundador da primeira escola para cegos
no mundo, em 1784, na cidade de Paris, denominada
Instituto Real dos Jovens Cegos. Foi nesta escola,
onde os estudantes cegos tinham acesso apenas à leitura,
através do processo de Valentin Hauy, que estudou
Louis Braille. Até então, não havia recurso que permitisse
à pessoa cega comunicar-se pela escrita individual.
Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento
de uma invenção denominada sonografia ou código militar,
desenvolvida por Charles Barbier, oficial do exército francês.
O invento tinha como objetivo possibilitar a comunicação noturna
entre oficiais nas campanhas de guerra. Baseava-se em
doze sinais, compreendendo linhas e pontos salientes, representando
sílabas na língua francesa.
O invento de Barbier não logrou êxito no que se propunha, inicialmente.
O bem intencionado oficial levou seu invento
para ser experimentado entre as pessoas cegas do
Instituto Real dos Jovens Cegos.
A significação tátil dos pontos em relevo do invento de
Barbier foi a base para a criação do Sistema Braille,
aplicável tanto na leitura como na escrita por pessoas
cegas e cuja estrutura diverge fundamentalmente do
processo que inspirou seu inventor.
O Sistema Braille,utilizando seis pontos em relevo,
dispostos em duas colunas, possibilita a formação de
63 símbolos diferentes que são empregados em textos
literários nos diversos idiomas, como também nas
simbologias matemática e científica, em geral,
na música e, recentemente, na Informática.
A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu
autor desenvolveu estudos que resultaram, em 1837,
na proposta que definiu a estrutura básica do sistema,
ainda hoje utilizada mundialmente.
Comprovadamente, o Sistema Braille teve plena aceitação
por parte das pessoas cegas, tendo-se registrado,
no entanto, algumas tentativas para a adoção de outras
formas de leitura e escrita e, ainda outras, sem resultado
prático, para aperfeiçoamento da invenção de Louis Braille.
Apesar de algumas resistências mais ou menos
prolongadas em outros países da Europa e nos
Estados Unidos, o Sistema Braille, por sua eficiência
e vasta aplicabilidade, se impôs definitivamente como
o melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas.
Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris,
com a participação de onze países europeus e dos
Estados Unidos, estabeleceu que o Sistema Braille deveria
ser adotado de forma padronizada, para uso na literatura,
exatamente de acordo com a proposta de estrutura do
sistema, apresentada por Louis Braille em 1837,
já referida anteriormente.
Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as
notações musicais foram, também, apresentados pelo
próprio Louis Braille na versão final dos estudos constantes
da proposta de estrutura do Sistema concluída em 1837.
Hoje, a musicografia braille‚ já é adotada uniformemente
por todos os países. Para tanto, contribuíram,
principalmente, os congressos realizados em Colônia
(Alemanha), 1888, em Paris (França), 1929 e, finalmente,
num congresso realizado em Nova Iorque, 1954, onde
foram adaptados símbolos, de acordo com novas
exigências da musicografia.
A aplicação do Sistema Braille à Matemática foi também
proposta por seu inventor na versão do Sistema editada
em 1837. Nesta, foram apresentados os símbolos
fundamentais para os algarismos, bem como as
convenções para a Aritmética e para a Geometria.
Esta simbologia fundamental, entretanto, nem sempre
foi adotada nos países que vieram a utilizar o Sistema
Braille, verificando-se, posteriormente, diferenças regionais
e locais mais ou menos acentuadas, chegando a prevalecer,
como hoje, diversos códigos para a Matemática e
as ciências em todo o mundo.
Com o propósito de unificar a simbologia braille para a
Matemática e as ciências, realizou-se na cidade de Viena,
em 1929, um congresso, reunindo países da Europa e
os Estados Unidos. Apesar desse esforço, a falta de acordo
fez com que continuassem a prevalecer as divergências,
que se acentuaram, face à necessidade de adoção
de novos símbolos, determinada pela evolução técnica
e científica do século XX.
O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos,
criado em 1952, hoje União Mundial dos Cegos,
com apoio da UNESCO, passou a se preocupar, através
de seus especialistas, com o problema da unificação
da simbologia matemática e científica, a nível mundial.
Com esse propósito, a Organização Nacional de Cegos
da Espanha (ONCE), em princípios da década de 1970,
desenvolveu estudos, através da análise e comparação
de diferentes códigos em uso no mundo, para, finalmente,
propor um código unificado a que denominou "Notacion
Universal".
A Conferência Ibero-Americana para a Unificação do
Sistema Braille, realizada em Buenos Aires, 1973,
foi uma tentativa de se estabelecer um código único
para países de língua castelhana e portuguesa.
Na oportunidade, foram apresentados três trabalhos,
elaborados pela Espanha, Argentina e Brasil.
A acentuada divergência entre os códigos inviabilizou
um desejável acordo.
O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos,
reunido por seu Comitê-Executivo na cidade de Riyadh,
Arábia-Saudita (1977), criou o Subcomitê de Matemáticas
e Ciências, integrado por representantes da Espanha,
Estados Unidos, União Soviética, Alemanha Ocidental
e Inglaterra, com a finalidade principal de promover,
em diferentes países, estudos e experiências de âmbito
nacional e regional, visando a unificação dos diversos
códigos em uso.
A nível de países de língua castelhana, finalmente,
foi possível um acordo para a unificação da simbologia
matemática, celebrado em 1987 na cidade de Montevidéu,
durante uma reunião de representantes de imprensas
braille dos países que falam o referido idioma.
A esta reunião compareceram representantes brasileiros,
como observadores.
A nível mundial, o esforço para a unificação dos códigos
matemáticos e científicos ainda não alcançou o
êxito desejado.
Especialistas no Sistema Braille do Brasil, especialmente
ligados ao Instituto Benjamin Constant e à, hoje,
Fundação Dorina Nowill para Cegos, a partir da década
de 70, passaram a se preocupar com as vantagens que
adviriam da unificação dos códigos de Matemática e
das ciências, uma vez que a tabela Taylor, adotada
no Brasil desde a década de 40, já não vinha
atendendo satisfatoriamente à transcrição em Braille,
sobretudo, após a introdução dos símbolos da Matemática
Moderna, revelando-se esta tabela, insuficiente para as
representações matemáticas e científicas em nível superior.
Deste modo, o Brasil participou inicialmente dos
estudos desenvolvidos pelo Comitê de especialistas
da ONCE e, posteriormente, acompanhou os estudos
desenvolvidos pelo Comitê da ONCE, deles resultando
o Código de Matemática Unificado.
Em 1991 foi criada a Comissão para Estudo e Atualização
do Sistema Braille em uso no Brasil, com a participação
de especialistas representantes do Instituto Benjamin
Constant, da Fundação Dorina Nowill para Cegos,
do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos,
da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes
Visuais e da Federação Brasileira de Entidades de
Cegos, com o apoio da União Brasileira de Cegos e o
patrocínio do Fundo de Cooperação Econômica para
Iberoamérica - ONCE-ULAC. Os estudos desta comissão
foram concluídos em 18 de maio de 1994, constando
das principais resoluções a de se adotar no Brasil o
Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana,
com as necessárias adaptações à realidade brasileira.
Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas
da Comissão na área da Matemática vêm realizando
estudos para o estabelecimento de estratégias, visando
a implantação, em todo o território brasileiro, da
nova simbologia matemática unificada.
Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema
Braille no Brasil pode ser abordada em três períodos
distintos:
1854 a 1942 - Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no
Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto
Benjamin Constant), sendo assim, a primeira instituição na
América Latina a utilizá-lo. Deve-se isto aos esforços de
José Alvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro,
que o havia aprendido na França.
Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve
plena aceitação no Brasil, utilizando-se praticamente
toda a simbologia usada na França. A exemplo de outros
países, o Brasil passou a empregar, na íntegra, o código
internacional de musicografia braille de 1929.
1942 a 1963 - Neste período verificaram-se algumas
alterações na simbologia braille em uso no Brasil.
Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa
de 1942, o antigo alfabeto braille de origem francesa
foi adaptado às novas necessidades de nossa língua,
especialmente para a representação de símbolos
indicativos de acentos diferenciais.
Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais
matemáticos, de origem inglesa, em substituição
à simbologia francesa até então empregada.
A Portaria no. 552, de 13 de novembro de 1945,
estabeleceu o Braille Oficial para uso no Brasil,
além de um código de abreviaturas, da autoria do
professor José Espínola Veiga. Esta abreviatura teve
uso restrito, entrando em desuso, posteriormente.
A Lei no. 4.169, de 4 de dezembro de 1962, que oficializou
as convenções braille para uso na escrita e leitura dos
cegos, além de um código de contrações e abreviaturas
braille, veio a criar dificuldades para o estabelecimento
de acordos internacionais, pelo que, especialistas
brasileiros optaram por alterar seus conteúdos,
em benefício da unificação do Sistema Braille.
1963 a 1995 - Os fatos marcantes deste período podem
ser assim destacados: em 05 de janeiro de 1963 foi
assinado um convênio luso-brasileiro, entre as mais
importantes entidades dos dois países, para a padronização
do Braille integral (grau 1) e para a adoção, no Brasil,
de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal.
Em relação à Matemática, educadores e técnicos da
Fundação para o Livro do Cego no Brasil e do Instituto
Benjamin Constant, principalmente, complementaram
a tabela Taylor com o acréscimo de símbolos braille
aplicáveis à teoria de conjuntos.
A atuação profissional de pessoas cegas no campo da
Informática, a partir da década de 70, fez com que
surgissem diferentes formas de representação em Braille
desta matéria, com base, sobretudo, em publicações
estrangeiras. A nível de imprensas e centros de produção
de Braille, finalmente, foi acordada em 1994, a adoção
de uma tabela unificada para a Informática.
Durante todo este período, o Brasil participou dos esforços
do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos
(hoje, União Mundial de Cegos) para a atualização
e a unificação do Sistema Braille, como o demonstram
a contribuição brasileira à Conferência Íbero-Americana
para Unificação do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973),
a participação de técnicos brasileiros, como observadores,
na Reunião de Imprensas Braille de Países de Língua
Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão
para Estudo e Atualização do Sistema Braille em
Uso no Brasil (1991-1994), a atuação de especialistas
brasileiros na Conferência: O Sistema Braille Aplicado
à Língua Portuguesa (Lisboa, 1994), além de outras
iniciativas e atividades desenvolvidas. Destaque-se,
em todo este período, o trabalho conjunto da, hoje,
Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto
Benjamin Constant, através de seus especialistas,
aos quais se reuniram, muitas vezes, competentes
profissionais de outras importantes entidades brasileiras.
As tentativas de destacadas entidades de e para cegos,
no sentido de se criar, em âmbito federal, uma comissão
nacional de Braille não foram bem sucedidas.
O insucesso, porém, foi certamente compensado pelo
trabalho profícuo e harmonioso dos especialistas em
Braille do Brasil.
A União Brasileira de Cegos, na assembléia-geral ordinária
de 28 de agosto de 1995, realizada no Instituto Benjamin
Constant, homologou a criação, no âmbito dessa entidade,
da Comissão Brasileira de Braille, constituída de cinco
membros.
Os membros da Comissão deverão atender aos critérios
de serem, preferentemente, usuários do Sistema Braille
e de terem conhecimento e experiência reconhecidos
no campo da produção de material braille e da educação
de cegos.
FINALIDADES DA COMISSÃO BRASILEIRA DE
BRAILLE
1 - Propor às autoridades competentes e diligenciar por
sua execução, a nível nacional, a política de diretrizes e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do
Sistema Braille em todas as suas modalidades de
aplicação, compreendendo, especialmente, a Língua
Portuguesa, a Matemática e outras ciências, a Música
e a Informática.
2 - Propor ao Governo Federal a promulgação de leis,
a edição de decretos e regulamentações concernentes
ao uso do Sistema Braille no Brasil, visando, inclusive,
a unificação das aplicações do referido Sistema a nível
internacional, especialmente nas línguas portuguesa e
castelhana.
3 - Cumprir e fazer cumprir, no que lhe couber,
os acordos internacionais referentes ao uso do Sistema
Braille.
4 - Funcionar como equipe técnica de assessoria sobre
questões eletivas ao uso do Sistema Braille, junto a
entidades públicas e privadas.
5 - Avaliar, permanentemente, a simbologia braille adotada
no país, atentando para a necessidade de adaptá-la ou
alterá-la, face à evolução técnica e científica,
particularmente, procurando compatibilizar esta
simbologia, sempre que possível, com as adotadas
nos países de línguas portuguesa e castelhana.
6 - Manter intercâmbio permanente com comissões de
Braille de outros países, de acordo com a política
de unificação do Sistema Braille, a nível internacional.
7 - Estabelecer, com base em estudos realizados,
conteúdos, metodologias e estratégias a serem adotados
em cursos de aprendizagem do Sistema Braille com
caráter de especialização, treinamento e reciclagem de
professores e de técnicos, como também nos cursos
destinados a usuários do Sistema e à comunidade,
em geral.
8 - Estabelecer critérios e fixar estratégias para a
implantação de novas simbologias braille que alterem
ou substituam os códigos em uso no Brasil, prevendo
a realização de avaliações sistemáticas com vistas a
modificações de procedimentos, sempre que necessário.
9 - Manter, com objetivos de estudo e de pesquisa,
acervo bibliográfico de origem nacional e estrangeira,
acerca do Sistema Braille, compreendendo códigos,
manuais, tabelas e outras publicações afins.
10 - Elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras
publicações que facilitem o processo ensino-aprendizagem
e o uso do Sistema Braille em todo o território nacional.
Esta iniciativa da União Brasileira de Cegos nivela o Brasil
com os países em que as questões referentes à leitura
e à escrita das pessoas cegas são da competência de
verdadeiras "Autoridades Braille".
Edison Ribeiro Lemos - Ex professor do Instituto
Benjamin Constant, advogado, Livre Docente em
Educação, Presidente do Conselho Brasileiro para o
Bem Estar dos Cegos e Coordenador da Comissão
Brasileira de Braille.
Jonir Bechara Cerqueira - Professor, ex Diretor Geral
do Instituto Benjamin Constant e membro da Comissão
Brasileira de Braille e do Conselho Editorial da Revista
Benjamin Constant.
FONTE:http://www.ibc.gov.br
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