domingo, 22 de abril de 2012

CONSTRUINDO UMA NOVA FAMÍLIA


Uma mulher e um homem conhecem-se, apaixonam-se, o amor nasce entre eles.

Aos poucos eles vão descobrindo os caminhos do amor, chegando altura em que decidem juntar as suas vidas. Resolveram que era a hora de iniciar uma nova família, a sua família!

Meteram mãos à obra e super felizes juntaram os trapinhos. Ela só tinha olhos para ele, ele naturalmente só tinha olhos para ela, tudo lhes parecia perfeito, mesmo aquelas coisitas que o outro fazia de forma diferente e que até não gostavam muito… mas, o amor é assim, é lindo e torna tudo mais dourado, os seus olhos só viam o que queriam ver.

Aos poucos vão construindo a sua família, a sua estrutura, a sua organização. Cada um deles sem se aperceber, vai trazendo para a sua nova família modelos (ou oposição aos modelos) que traziam das suas famílias de origem (pais e avós austeros, autoritários, rígidos, agressores, democráticos, liberais, permissivos, ambivalentes…).
Não nos podemos esquecer que esta mulher e este homem, tinham um pai e uma mãe, um avô e uma avó maternos e paternos, talvez irmão(s) e/ou irmã(s), ou se calhar são filhos únicos.

Aos poucos (por vezes nem sequer dão por isso) vão percebendo que cada um tinha uma história de família (da sua família de origem). Que vai passando de geração em geração.

Todos nós trazemos connosco a história da nossa família e em muitas famílias, é visível a passagem de geração em geração de modelos de relacionamento interpessoal e vivências emocionais que constituem um padrão característico. Noutras famílias o passado e as recordações parecem não existir, sendo interessante verificar que ao passarem por crises, acabam por descobrir a repetição de comportamentos já existentes no passado…

Se pensarmos um pouco, todos nós conseguimos ligar aos nossos pais e avós algumas características, ou porque nos lembramos pessoalmente ou porque nos foi contado. Algumas características reconhecemos em
nós, e fazem parte da nossa herança familiar.

O novo casal trás consigo estas histórias, esta transmissão transgeracional da história familiar é importante para o futuro da nova família, umas vezes para continuar os modelos, outras vezes para romper com eles, outras vezes para ajustar apenas algumas coisas que achamos mais significativas.

Perceber como foram os nossos avós, pois foram eles que educaram os nossos pais, que por sua vez nos educaram a nós, ajuda-nos a compreender quem somos e a construir duma forma diferente a minha nova família.

As famílias são dinâmicas, são sistemas vivos em permanente evolução, é natural que encontrem dificuldades, que atravessem crises mas que estas podem ser molas para evoluir, para mudar, para encontrar novos caminhos. É nas famílias que estão as ferramentas para mudar, muitas vezes não o sabem, mas só existe mudança quando a queremos ( e não porque alguém diz que temos de mudar), é interessante verificar que é nestas alturas de crise que vamos encontrar as transmissões transgeracionais faladas atrás.

Naturalmente não se pode educar e construir só pelo passado porque as circunstâncias variam e a repetição poderá não ter bons resultados mas, não olhar para o passado é como plantar à superfície sem cuidar das raízes (Sampaio, D.).

Estas transmissões de valores familiares é feita mais por comportamentos e acontecimentos vividos do que por palavras.

Este novo casal vai descobrindo que traziam rituais e características familiares diferentes, que dão importância diferente a valores e comportamentos, e que é importante perceberem que um não é melhor nem pior que o outro é simplesmente diferente. O que é importante é este novo casal encontrar a sua forma de ir construindo a sua família, recorrendo ao que traziam das suas famílias de origem e que lhes faz sentido e ser criativos na sua nova forma de viver.

Este casal, tal como a maior parte de nós, acha que os outros foram educados com os mesmos valores… mas, afinal as nossas famílias de origem são bem diferentes, não são melhores nem piores apenas são diferentes. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre o que trazemos e o que queremos ser, ter e dar.

Conhecer a história da nossa família dá-nos a segurança nem que seja para dizer eu não quero ir por aí, eu não quero ser assim…

Na construção da nova família é importante saber diferenciar-se com equilíbrio da sua família de origem, reconhecer e apreciar a sua história transgeracional, fazer as suas escolhas, sabendo que o futuro da sua
nova família depende não só das vontades individuais, das vontades do nós casal, mas também, da identidade construída através dos nossos antepassados.

Falamos da construção da nova família, e segundo a perspectiva sistémica existe um ciclo de vida familiar, com vários estádios. Depois de surgir o casal, novo estádio vai aparecer com o nascimento do primeiro filho. Nova etapa a desbravar que vai implicar que o dois do casal passe para três quando nascer o filho. Adaptações de todos nesta família: do casal que agora vai assumir um novo papel o de ser pai e mãe, o de descobrir novos sentimentos e emoções, o do bebé que se vai adaptar ao mundo fora da barriga da mãe, o do casal que vai ter
de encontrar uma forma de encaixar o novo elemento na família de forma a que este não separe o casal.

Descobrir a maternidade e a paternidade nem sempre é tão fácil como dizem e a vinculação ao novo elemento vai sendo construída. A responsabilidade que o casal tem é muito grande, especialmente quando as expectativas que a sociedade impõe quase os “obriga” a serem super pais e mães.

Esta nova etapa tem tanto de maravilhoso quanto de difícil e é bom podermos partilhar com outros as nossas ansiedades e medos, ninguém nasce ensinado e nem sempre tudo o que fazemos está certo mas de certeza que procuramos fazer o nosso melhor.

Educar os nossos filhos é uma tarefa magnífica, com altos e baixos, não esquecendo que diz respeito ao pai e mãe, que ambos podem trazer modelos diferentes e que será importante reflectir sobre o que este casal quer dar aos seus filhos. Conversar sobre a educação que querem dar aos seus filhos, reflectir sobre as diferenças, eleger prioridades que façam sentido para os dois, nem sempre é uma tarefa fácil, nem sempre é claramente conversado, o que pode levar a situações bastante complicadas de desautorizações e incompreensões.

Por outro lado é preciso não esquecer que apesar de haver um novo elemento agora no centro da família, é preciso não esquecer o casal que normalmente é esquecido e atirado para um canto. Por vezes deixamo-nos envolver tanto na parentalidade que ficamos tão cansados que acabamos por desleixar a relação de casal, e não podemos dar aos nossos filhos o equilíbrio que necessitam se não estivermos bem connosco e com o/a nosso/a companheiro/a.

Cuidar com muito carinho e atenção da relação de casal vai certamente tornar todos mais felizes e vai fortalecer o exercício da parentalidade.

Acima de tudo a comunicação deverá ser sempre uma prioridade nas relações, só através dela poderemos dar a saber ao outro o que pensamos, o que sentimos, o que discordamos, o quanto amamos, se não o fizermos o outro não consegue adivinhar o que nos vai na alma e facilmente poderão surgir conflitos e incompreensões que poderiam ser evitados e negociados.

Bibliografia

A razão dos avós – Daniel Sampaio
O amor não se aprende nos livros – Eduardo Sá
Más maneiras de sermos bons pais - Eduardo Sá
Amor e desejo na relação conjugal – Esther Perel
O segredo das crianças felizes 

Maria de Jesus Brito

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