sábado, 22 de março de 2014

HOMENAGEM A VICTOR CUNHA QUE FALECEU NO DIA HOJE NA TERRA DO REI PELÉ.




Entre suas composições estão: 
Saudade, um hino de amor à cidade natal, 
Três Corações-MG.

SAUDADE... - TEMA DE TC
Autor: Victor Cunha – Composição

Quantas saudades de tudo que o tempo levou
Daqueles dias felizes que a vida marcou.
Das serenatas saudosas nas noites de lua
Do Rio Verde a passar, espelhando o luar...
Do Bom Senhor na Matriz, do meu Grupo, da Praça
Dos seriados famosos que não voltam jamais.
Tudo ficou na lembrança, de uma cidade criança
Que os anos levaram sem volta
Sem nenhuma esperança.
Dos Carnavais, que saudade!
Dos Blocos no Clube
Dos Ranchos e Blocos de Rua, na Avenida a bailar
Da Velha Guarda querida em perfeita harmonia
Nos Balalaikas da vida, como a vida sorria...
Disse Cartola num samba que As Rosas não falam
Mas para mim, simplesmente, as rosas não ouvem
Elas falando e ouvindo, se me escutassem chorar
Pediriam a Deus lá no Céu
Para o tempo voltar.

Este conhecido tricordiano fala, através de suas canções, do amor e da saudade que sente por sua terra. A estrutura dos versos revela que a base material do discurso poético é um conjunto de signos que remetem ao vocabulário freqüentemente usado pelos românticos.
Victor Cunha vale-se de uma retórica comum ao final do século XIX para expressar o sentimento de um passado edênico, perdido no tempo da recordação. O enunciador tem a forma indeterminada, uma vez que o sujeito sintático não se identifica, o que leva à mistura de funções diferentes: ele é quem fala, quem sabe o que se passou e ainda realiza um sincretismo com possíveis leitores. De acordo com Paulo Eduardo Lopes (1994), podemos dizer que temos, nos versos acima, no nível do enunciado, um informador que define o passado como sinônimo de tempo feliz. Entretanto essa não é uma posição individual e, sim, aquela adotada por diversas pessoas antigas da comunidade.
Nesse discurso ecoam outras vozes, pois todo discurso é dialógico e deixa entrever outros que lhe são subjacentes, conforme afirmações de Bakhtin. O enunciado está repleto de ecos e lembranças de outros enunciados, aos quais está vinculado no interior de uma esfera comum da comunicação verbal. O enunciado deve ser considerado acima de tudo como uma resposta a enunciados anteriores dentro de uma dada esfera (a palavra “resposta” é empregada aqui no sentido lato): refuta-os, confirma-os, completa-os, baseia-se neles, supõe-nos conhecidos e, de um modo ou de outro, conta com eles (Bakhtin, 1992, p. 316).
Saudade é também o título de seu livro, em que recorda a Três Corações pacata, porém com muitas histórias interessantes. A reiteração do lexema saudade mostra a obsessão do autor, demonstrada na escolha do estilo literário. Nada de versos brancos, nem de ausência de rimas. Temos um discurso que supõe a concordância de outros que já vivenciaram as mesmas experiências do poeta.
Essa identificação se estende aos elementos da natureza, pois até as rosas “pediriam a Deus lá no céu/ para o tempo voltar”. Ainda é Bakhin quem nos diz: Minha emoção só adquirirá ressonância lírica na medida em que eu não me sentir solitariamente responsável por ela, mas em que me sentir
solidário com os valores do outro em mim, em que sentir minha passividade no possível coro dos outros, um coro que me terá rodeado de todos os lados e que parece proteger-me contra o pré-dado imediato e premente do acontecimento existencial (Bakhtin, 1992, p. 184).
Esses outros são o coro que se harmoniza com o que digo. As inúmeras referências a fatos, construções, organizações (“Balalaikas”, “Velha Guarda”, “Monsenhor da Matriz” etc.), que são do conhecimento apenas de quem conhece ou conheceu Três Corações, mostram a inclusão do autor num coro formado por conterrâneos, coro em que ele se coloca como herói privilegiado por conseguir cantar uma melancolia que é de muitos outros.
Em 2006, lançou seu segundo livro, chamado Três Corações... ontem, Três Corações... hoje, Um pouco de sua história, onde se encontram as biografias de todos os agentes executivos, interventores e prefeitos nomeados até o fim da ditadura de Getúlio Vargas (1945). É um livro de referência que se presta à consulta de estudiosos da história local, sem objetivos literários.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina
G. G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CUNHA, Victor. CD-Saudade. Três Corações: Gravadora Tom Maior, 1999.
CUNHA, Victor. Saudade. Três Corações: Gráfica Veritas, 1999.
MORIN, Edgar. A religação dos saberes. O desafio do século XXI.
Trad. Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

fonte: http://yauara.blogspot.com.br/2012/08/victor-cunha-testemunha-de-uma-tres_9.html

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