quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Gestão brasileira transforma Estoril na sensação do futebol português

Em quatro anos clube resolve débitos de 4 milhões de euros, sobe de divisão e disputa Liga Europa

Por: CIRO CAMPOS E MARCIUS AZEVEDO - O Estado de S. Paulo
O brasileiro Tiago Ribeiro foi um dos responsáveis por revitalizar as finanças do clubeTiago Queiroz/Estadão

SÃO PAULO - Mais de 500 anos depois, agora é a vez do Brasil iniciar uma espécie de colonização em Portugal. A exemplo de 1500, em um núcleo pequeno no litoral começa uma era de crescimento. Da beira da queda para a terceira divisão e com 4 milhões de euros em dívidas, o pequeno Estoril reagiu nos últimos quatro anos graças ao comando brasileiro e hoje desfruta a melhor fase dos seus 74 anos de história.
A evolução é cercada de aspectos curiosos. Na última temporada o clube tinha um dos quatro menores orçamentos do Campeonato Português, mas mesmo assim fez história ao conseguir vaga na Liga Europa pela primeira vez. O estádio local é o menor da primeira divisão portuguesa: tem capacidade para apenas 5 mil pessoas. Por fim, o presidente, Tiago Ribeiro, de 38 anos, é o mais jovem do futebol local e o único brasileiro a estar no comando de uma equipe europeia.
O crescimento do Estoril

A grande guinada foi quando a Traffic, agência brasileira de marketing esportivo, passou a administrar o clube, em 2009. A cidade litorânea de 27 mil habitantes reunia fatores interessantes para a empresa começar a expandir os negócios pela Europa: clima, idioma, ausência de limite para contratação de jogadores estrangeiros e o fato do Estoril já ser uma Sociedade Anônima Desportiva.
Após um ano como somente gestora, a companhia comprou o clube e passou a ser oficialmente a administradora. No período inicial, a preocupação foi reorganizar as finanças e contratar uma auditoria externa, além de superar a desconfiança e também alguns equívocos, como a divisão entre os atletas que eram ou não da Traffic. "Chegamos com uma certa arrogância de trazer muitos jogadores brasileiros e impor o nosso estilo. Depois 'aportuguesamos'o time, ao procurar talentos locais", contou o presidente, executivo escolhido pela empresa para tocar o projeto.
A aposta certeira foi a escolha do técnico. Marco Silva aposentou-se no Estoril após seis temporadas como lateral-direito. Passou um ano como diretor e depois assumiu o comando do time, então na segunda divisão. Primeiramente tinha de evitar o rebaixamento. Conseguiu. Na temporada seguinte, obteve o acesso com título, quando estabeleceu o recorde de 14 partidas de invencibilidade. Agora ele desafia a polaridade excessiva do futebol português. Das 79 edições do campeonato nacional, apenas duas não foram vencidas pelos gigantes Porto, Benfica ou Sporting.
"Nosso segredo é trabalhar com tranquilidade. Temos uma boa estrutura e nada nos falta. Mesmo na Liga Europa, o Campeonato Português continua como a prioridade, pelo lado financeiro e desportivo", disse o técnico, uma testemunha da transformação de clube coadjuvante em sensação nacional. "Antes nos jogos recebíamos cerca de 500 torcedores. Na temporada passada já tivemos até 2 mil", comparou. Os números parecem tímidos para o padrão brasileiro, mas são relevantes no contexto local. Pela proximidade de Lisboa, os moradores do balneário costumam adotar o Estoril como o segundo time do coração.
A tranquilidade e a organização pesaram na hora do meia João Pedro, de 21 anos, deixar o Santos em julho e acertar com os "Canarinhos". Na cidade, ele e os demais jogadores saem na rua sem ser reconhecidos e nem cobrados pela torcida. "O clube vive ótima fase, mas temos que ir com calma e dar um passo de cada vez, sem cair na euforia. A relação transparente com a diretoria nos dá confiança para buscar os resultados", afirmou.
O Estoril tem um orçamento para a atual temporada de 5 milhões de euros e o sucesso da “colonização brasileira” começa a ser modelo. "Tanto os fundos de investimento quanto os capitais estrangeiros são uma tendência irreversível no futebol. Fomos o primeiro, mas o Beira-Mar e o Olhanense também começam a seguir nosso exemplo", disse o presidente. 
Equipe do Estoril tem o apelido de 'CanarinhosDivulgação


FONTE: 
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,gestao-brasileira-transforma-

estoril-na-sensacao-do-futebol-portugues,1074461,0.htm

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