sábado, 21 de dezembro de 2013

O Gol mais bonito de Pelé

Por: Guilherme Gomez Guarche

Há 50 anos, no dia 02 de agosto de 1959, um domingo, Pelé marcou, segundo ele e quem viu, o gol mais bonito de sua carreira. Em homenagem ao nosso eterno Rei, vamos reproduzir dois textos elegantes feito pelos jornalistas De Vaney e Ari Fortes e publicados no jornal "A Tribuna" no dia 04 de agosto de 1959.
A seguir, o texto de De Vaney:
"No capítulo dos gols magistrais, o que Pelé assinalou, domingo, na rua Javari, há que ter um realce especial. Lances existem que, pela sua formosura técnica, a gente os traz gravados nos olhos, de regresso à casa. Esse, o de Pelé, 4º do Santos F. Clube ante o Juventus, é o gol que se fixou na alma, no espírito, no coração, no sentimento inteiro de quem o viu surgir em meio de dois crepúsculos: o do dia, que se findava aos poucos, e o da partida, que se extinguia lentamente. Gols tenho eu os visto, magníficos, para mais de meia centena deles. Vi Friendereich, a matreirice em pessoa, derrubar os uruguaios de 19 com aquele tento-histórico que deu ao Brasil o seu primeiro título. Vi Nilo Murtinho Braga, furacão em feitio de gente, sacudir redes argentinas em vesperais de ouro. Vi Feitiço, pólvora seca em cada chanca, estraçalhar malhas escocesas com quatro petardos no dia em que os do Motherwell tombaram por 5 x 0. Vi Leônidas da Silva, todo de borracha, arrazar metas polonesas em concepções estupendas, dignas da magia que se continha em seus pés. Vi Heleno de Freitas, uma ofensa em cada chute, arrebentar cidadelas imbatíveis, em cotejos decisivos. Vi Carvalho Leite, um rompe-aço em cada arremate, vencer guardiões famosos em tiros devastadores. Vi Petronilho de Brito, um poema em cada lance, esconder a bola no fundo dos arcos inimigos como menino que brinca de chicote-queimado. Vi gols de todos os feitios, desde o que explode no fundo do retângulo como bomba de canhão, até o que chia ao contacto dos barbantes encerados como azeite de alto custo em frigideira de ouro. Mas gol com aquele que Pelé presentou o mundo do futebol, domingo, na Moóca, eu creio que ninguém viu coisa igual até hoje. O gol de Pelé fez lembrar, até, a anedota do cidadão que após olhar demoradamente para a girafa, no jardim zoológico, comentou: 'Isso não existe'".

Charge do gol, de J. C. Lobo, publicada por 
"A Tribuna" em 4 de agosto de 1959

Na sequência, o texto de Ari Fortes:
"Aos 42 minutos ocorreu o tento-jóia de PELÉ, que fez vibrar a grande assistência. Em manobra de Dorval e Coutinho, a pelota se ofereceu ao 'scrathman' que, num de seus lances característicos, encobriu Homero, colhendo a bola à frente. Clóvis interveio e também foi superado com idêntico golpe. Por último saiu da meta o arqueiro Mão de Onça e, igualmente Pelé o encobriu, ficando com o arco vazio à sua disposição. Antes da aproximação de qualquer outro defensor juventino, o atacante santista lançou o corpo ligeiramente para diante e, com sutil golpe de testa atirou a esfera às malhas. Lance realmente espetacular que valeu ao autor do tento. Como se disse, os cumprimentos de vários elementos do próprio conjunto antagonista e os aplausos em massa de todo o estádio! Depois de jogada de tão primorosa concepção nada mais se poderia esperar de relevo nos últimos três minutos. E o prélio se encerrou com 4 a 0 pró Santos".

*Guilherme Gomez Guarche é conselheiro, ex-presidente da 
Torcida Sangue Santista, historiador, trabalhador portuário e autor dos livros "O Alvinegro Mais Famoso do Mundo", "O Melhor dos Séculos nas Américas", "O Alvinegro da Vila Belmiro - A Era Robinho", "Passado de Glórias", em homenagem aos 95 anos de fundação do Santos FC, e “Pequenas Histórias da História do Santos Futebol Clube”.

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