quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Mero retrato na parede


Clubes tradicionais do Sul do estado, como o Pouso Alegre, amargam o ostracismo e veem a influência de representantes da região ser reduzida no futebol mineiro

postado em 07/09/2015 10:00 / atualizado em 07/09/2015 

Renan Damasceno / Estado de Minas


O campo da Lema, na área central da cidade de Pouso Alegre, é um dos símbolos do abandono da equipe

Antes celeiro de jogadores e base de times que sempre complicavam a vida dos rivais da capital, o Sul de Minas fica a cada ano mais órfão de representantes nas três divisões do Campeonato Mineiro. Nesta temporada, das 38 equipes que disputaram Módulo I e Módulo II e jogam a Segunda Divisão, apenas quatro são sul-mineiras: a atual vice-campeã estadual, Caldense (Poços de Caldas), Tricordiano (Três Corações), Esportiva (Guaxupé) e Boa, uma espécie de enteado, já que trocou Ituiutaba por Varginha em 2011.

Muitas agremiações sonham em voltar, mas esbarram em falta de patrocínio, estrutura ou disputas particulares pelo poder. É o caso do tradicional Pouso Alegre Futebol Clube, que completou 100 anos em 2013, mas segue longe dos gramados. Equipe que surpreendeu os grandes na Primeira Divisão em 1990, o Dragão disputou apenas um campeonato nos últimos 17 anos – em 2009, ano em que jogou a Segundona. Desde 2010, o principal jogador de sua história, Paulo da Pinta (ex-Cruzeiro e Criciúma), luta na Justiça para reativar o rubro-negro. O processo, que tramita na 4ª Vara Cível da comarca de Pouso Alegre, pede mais transparência no processo eleitoral do clube, comandado há 30 anos pela mesma família.

“Desde a década de 1980, a presidência troca de mãos entre pai e filhos da família Chaves. Eles não reativam o time, mas também não abrem oportunidade para quem quer fazer. A nossa ação pede uma intervenção para eleições transparentes”, lamenta Paulo, hoje dono de restaurante na cidade. “Na audiência, eles alegam haver uma dívida de R$ 5 milhões para a família, mas são eles mesmos os dirigentes. Recentemente, eles ganharam uma indenização do hospital vizinho ao campo no valor de R$ 800 mil, e não sabemos para onde foi o dinheiro”, afirma.

A reportagem tentou contato com o atual vice-presidente, Maurício Chaves, que pediu para retornar a ligação mais tarde, mas não atendeu as novas chamadas. Segundo o ex-jogador, a dificuldade de falar com os atuais diretores tem emperrado o andamento da ação. “A Justiça convoca sócios para depor, mas eles não existem. Enviam cartas de convocação para várias cidades, sem resposta. O Pouso Alegre tem um patrimônio de valor, uma área de 10 mil metros quadrados no Centro da cidade. É difícil afirmar, mas a única coisa que me leva a entender a insistência da família em se manter no poder é o patrimônio.”

O Campo da Lema, como é conhecido, fica na Área Central de Pouso Alegre, ao lado do hospital Samuel Libânio – o que inviabiliza qualquer evento público. “Ele está abandonado. Recentemente, a prefeitura fez uma limpeza por causa de casos de dengue”, conta o jornalista Carlos Manoel, especializado na cobertura do futebol local. O outro estádio da cidade é o Manduzão, que pertence ao município, na periferia da cidade.


Em 1990, Pouso Alegre ganhou do Galo no Mineirão: ex-atleta Paulo da Pinta 
tenta reativar o time na Justiça

SURPREENDENTE Criado em novembro de 1913, o Pouso Alegre viveu seu apogeu no fim dos anos 1980 (conseguiu o acesso à Primeira Divisão, em 1988). A classificação, no entanto, só foi garantida no ano seguinte, na Justiça, já que a partida que assegurou o acesso, contra o Atlético de Três Corações, não teve fim nem resultado validado pela federação. Por causa do atraso, o Dragão fez campeonato conturbado, jogando até três vezes por semana.

No ano seguinte, a equipe conseguiu seu melhor resultado, terminando o Mineiro em sexto lugar entre 18 concorrentes (oito vitórias, dois empates e sete derrotas). O triunfo mais marcante foi sobre o Atlético, por 2 a 1, no Mineirão, pela 15ª rodada. Gérson fez para o Galo, e Heleno e Carlão selaram a virada heroica. Treinado por José Maria Pena, o time contava com nomes conhecidos do futebol nacional, como o goleiro Paulo César, hoje o treinador PC Gusmão. Ao fim do campeonato, o lateral-esquerdo Nonato e o volante Paulo da Pinta se transferiram para o Cruzeiro. O primeiro defendeu a Raposa até 1997, e o zagueiro, sem se firmar, foi para a Inter de Limeira, onde foi treinado por Levir Culpi, que posteriormente o levou para o Criciúma, pelo qual disputaria a Libertadores’1992.

Para voltar à atividade, o Pouso Alegre terá de cumprir uma série de exigências. Como está inativo desde 2009, precisa pagar as anuidades atrasadas – R$ 3,5 mil por ano –, além de inscrever uma equipe de base em competições da Federação Mineira de Futebol (FMF). O caminho até a elite é longo, já que necessitaria de dois acessos até o Módulo I. “Os moradores da cidade cobram a volta do time. Veem a Caldense, vice-campeã, o Boa na Segunda Divisão e sonham com a volta do Pouso Alegre. Temos pessoas dispostas, mas parece que a situação não vai se ajeitar tão cedo”, lamenta Paulo.

QUE FIM LEVOU

De tradicionais A SEM ATIVIDADE

Alfenense
Alfenas

Único a vencer em 1980 o time que seria o campeão mineiro daquele ano, o Atlético (1 a 0, gol de Tatau, no Gigante da Avenida, em Alfenas), o alviverde não consegue apoio para manter uma equipe com regularidade desde o fim da década de 1990. Disputou a elite do Mineiro pela última vez em 1994. Chegou a tentar o retorno há alguns anos, mas esbarrou na falta de patrocínio.

Fabril
Lavras

Equipe que disputou a elite estadual por sete temporadas seguidas (1985 a 1991), o Fabril não participa de competições oficiais desde 2009, quando jogou a Segunda Divisão. Em 2013, o alvinegro do Bairro Industrial ensaiou um retorno, disputou amistosos, mas não se inscreveu para o Estadual. No ano passado, jogou o Mineiro Sub-20.

Flamengo
Varginha

Varginha teve dois Flamengos na Primeira Divisão estadual. O Flamengo Futebol Clube, que encerrou as atividades em 1973, e o Flamengo Esporte Clube, o mais recente, fundado em 1979. O rubro-negro disputou a elite por cinco anos seguidos, de 1989 a 1993, quando fechou as portas. Desde então, está inativo.

Rio Branco
Andradas

Uma briga entre clube e prefeitura fez o Rio Branco fechar as portas em 2009, ano em que terminou o Mineiro em quinto lugar. A prefeitura não renovou o contrato para a cessão do Parque do Azulão e não aceitou a proposta de reformá-lo em troca de um terreno. “A situação está regularizada, com taxas em dia, mas tenho receio de criar um time para tentar subir para a elite e o Estadual acabar até lá”, lamenta o presidente Cláudio Turati, citando a possível reativação de campeonatos como a Sul-Minas. “Com R$ 5 milhões, construímos um estádio, mas não vejo perspectiva. O time não deve voltar tão cedo.”

Outros clubes...

Nas últimas três décadas, outras equipes da região tiveram passagem rápida pela elite estadual. O Minas, de Boa Esperança, foi rebaixado logo na estreia, em 1988. Em 1992, o Esportivo de Passos, terminou em nono, mas não voltou para disputar o ano seguinte, que teve o Trespontano, de Três Pontas, rebaixado. Em 1996, foi a vez da Paraisense, de São Sebastião do Paraíso, cair para não voltar mais.
A quase centenária Verdona disputou a Segunda Divisão em 2001, mas logo se licenciou novamente.

fonte: http://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/interior/2015/09/07/noticia_interior,318793/mero-retrato-na-parede.shtml

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