segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

AO Sr. VICTOR CUNHA O NOSSO OBRIGADO, POVO TRICORDIANO.

AS RUAS QUE SONHEI


Soletrado por Victor Cunha, tricordiano de maior coração...





(...) Em uma pequena cidade do interior, era muito comum identificar uma rua, citando o nome de um bar, de uma loja, ou de um estabelecimento qualquer, ou então, o nome do morador mais popular de uma esquina ou daquela rua! Três Corações não foi exceção, vejam só: Rua 10, ou Rua do Salão Paroquial ou Rua da Rádio Tropical; Rua 9, ou rua do José Sonja; Rua 5, a Rua do Sô Minguinho ou Rua da D. Cacilda; Rua 3, era a Rua do Ginásio; Rua da Calabresa,  Rua da D. Aida Rosa ou da Farmácia do SôLuciano, Rua do Matuck, atual Dr. Moacyr Resende, Esquina do Signorelli, hoje com um belíssimo prédio, Esquinada Sinuca do Sô Tufi,  Esquina da Casa do Alumínio, Subida do Sô Herculano ou Subida da Cotia, Alto do Peró, Subida Brigadeiro, Rua 40 ou rua da Zona da Prostituição, da boemia! E assim por diante!
Naquele tempo, existia uma celebridade popular em Três Corações... era o “Capotão”!. Ele vagava pelas ruas da cidade e também não saía da Rua 40. À noitinha, o “Capotão” quando encontrava com a gente na praça, ao lado das mocinhas ou das namoradas, reconhecendo toda turma, inocentemente perguntava:“Ô fulano, Cê vai lá hoje?!”...matava a gente de vergonha, pois todas elas sabiam da fama da Rua 40!!!
O jornal da cidade, “A Folha do Povo”, edição n. 177 de 25 de Setembro de 1920, publicou o seguinte artigo: “OS NOMES DAS NOSSAS RUAS E PRAÇAS”, logicamente, as ruas da cidade, pois acreditamos que naquela época não existia nenhum bairro!
Não sei como, consegui cópia da página daquele jornal e uma cópia do mapa da cidade! Com um trabalho de pesquisa, perguntas daqui e dali, identificamos quase todas as ruas, por exemplo:
=Rua 1, Rua do Comércio, ou Rua da Cotia, é a Rua Cabo Benedito Alves;
=1ª Avenida, ou Rua 15 de Novembro e Rua Direita, é a Avenida Getúlio Vargas
=Praça 7 de Setembro, depois Praça da Maçonaria, ou  Praça Tenente Palestino
=Beco da Fumaça, Rua 18, Rua Luciano Pereira Penha, Calçadão 18, hoje Calçadão Jamil Auad
=Rua José Rodrigues, ou Rua Rui Barbosa, Rua do Rosário, é a atual Rua Julião Arbex
=Rua 40, a mais famosa delas, a rua da boemia, hoje é a Rua Samuel Brasil
E muitas outras, Praça do Fórum, Praça do Cine Zuza, Praça da Maçonaria, Praça da Estação, Praça do Cristo, etc. e assim por diante.
            Quase ninguém conhecia as ruas e as praças pelos seus verdadeiros nomes!
            Das 50 Ruas publicadas no jornal de 1920, ficou claro que não existiam as ruas, 23, 25, 27, 29, 33, 35, 37, 39, 4l, 43, 45, 47 e 49, pois não as localizamos e nem conseguimos saber o motivo!
            Nossa querida e saudosa tricordiana, Maria Isabel Câmara, publicou uma belíssima crônica sobre Três Corações, relembrando seu Avô Miguel Ferreiro que morava na Rua 6, e em um de seus trechos, ela escreveu o seguinte: “Não adianta querer esconder!...todo mundo tem um segredo perdido numa rua, seja ela de Londres, Paris, Barcelona, Nova York ou Três Corações!”
Gente, maravilhoso! Não deixa de ser verdade! Existe sempre uma rua que marca para sempre alguma coisa interessante ou importante de nossa vida, uma serenata, a namorada, um roubo de jabuticaba, de laranja ou de uva, roda de pião, uma pelada de futebol e outras brincadeiras... são as ruas que sonhamos!
            Não me esqueço nunca da Rua do Ginásio, hoje Rua Nelson Resende Fonseca, quando roubávamos pêra nos fundos do quintal do Palacete do Sô Adolfo Sant´Ana! No final da década dos anos 30 do Século XX, com menos de 10 anos de idade, não me esqueço das “peladinhas” que jogávamos quase todas as tardes, lá na Rua 2, ou Rua do Regimento, a Rua 7 de Setembro! Todas às vezes que vou ao Trailer do Barbosa, em frente à Pensão Ferreira (Hotel Rio Branco), vejo com saudade em minha mente o Sô João Russo, antigo proprietário da pensão, sentado em uma cadeira na calçada, em frente ao portão da pensão, ao lado do SôLuiz de Barros, proprietário da Carpintaria São José, com o cão Galante deitado aos seus pés, todos assistindo a algazarra que fazíamos!
            É lógico que eu também tenho a rua dos meus sonhos, das minhas lembranças, aliás, são muitas ruas, são todas as ruas da minha cidade, com um carinho especial para as duas ruas mais importantes da minha infância, da adolescência, e porque não dizer da minha vida: a primeira, a Avenida das Flores, depois Rua 6 ou Rua do Paredão do Bonésio, atual Rua Professor José Brasiliense Avelar; e a segunda, a Rua 3, ou Rua 28 de Setembro, depois Rua de Trás e agora Barão do Rio Branco! Às vezes, sempre quando saio para dar uma voltinha, paro um pouco na esquina da Rua 6 com a Rua 3, e ficou imaginando quantas vezes já brinquei e passei por aquelas duas ruas! Como tudo se modificou, as casas, os moradores, as ruas, os amigos que se foram!
Tudo ficou na saudade!..são as ruas que sonhei!
Esta crônica foi inspirada na “Crônica de Uma Cidade”, da Maria Isabel Câmara, e no samba do Paulinho da Viola, “As Ruas que Sonhei”, gravado com ele ao violão e Luciana Rabelo ao cavaquinho, ambos vocalizando...que lindo! Vale à pena ouvir até ao fim!

- As fotos são de algumas ruas de Três Corações, acervo Victor Cunha.

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