sábado, 28 de janeiro de 2012

HOMENAGEM DO OS PELÉS AO PROF. MAIS QUERIDO DA UNINCOR E DE TRÊS CORAÇÕES-MG, O MAIS ESPORTISTA DOS ESPORTISTAS TRICORDIANOS, PROF.TERESINHO MOREIRA RITO.


Faz falta a amizade, o abraço, na escola
Entrevista com Teresinho Moreira Rito gravada em 2008 para o projeto Memória da Educação Tricordiana, em Três Corações (MG). Pesquisadores: Andressa Gonçalves, Luis Felipe Branquinho e Paulo Morais. Foto: acervo pessoal.
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Nasci em Monte Belo, fica perto de Muzambinho e a 64 quilômetros de Alfenas. Eu nasci em 6 de agosto de 1929. Meu pai era Manoel Antonio Rito e, minha mãe, Aurora Moreira Rito.  Meu pai era português e minha mãe era de São Paulo, mas era filha de portugueses também.  Meu pai nasceu em 1901, eu acho, porque minha mãe nasceu em 1900 e era um ano mais velha que ele. Ele nasceu em Portugal, num lugar chamado Mogadouro, na divisa com a Espanha. Em 1911, me parece, a família dele veio toda pro Brasil.  Eles vieram pra São Paulo.
 Logo depois teve aquela gripe espanhola, em 1918, eu acredito. Morreram todos, só ficou meu pai. Ele ficou jovem, sozinho no mundo, sem ninguém.
Aí meu pai veio pra Poços de Caldas. E, naquela época, o transporte era quase todo feito no lombo do burro. Então ele e uns colegas iam em Lagoa da Prata pegar animais pra levar pra Poços de Caldas e pra São Paulo, de modo que ele virou tropeiro. Ele levava só a tropa, não levava carga não. A mercadoria dele era o burro. Quando eu era jovem, eu mesmo conheci um senhor mais de idade, e eu conversava muito com ele. 
Ele dizia que levava toucinho salgado, no lombo de burro, de Monte Belo pro Rio de Janeiro. Eu nem imagino quanto tempo levava.
Certamente, foi numa dessas viagens que meu pai conheceu minha mãe, lá em Monte Belo. Poços de Caldas era importante na época, pois dali eles distribuíam  os animais. Minha mãe morava em Monte Cristo, perto de Monte Belo. Ela era de casa. Morava numa fazenda muito grande, muito boa. Quando eu nasci, a cidade era muito pequena. Hoje, não deve ter nem cinco mil habitantes. Na época, era um arraial. 
E tem uma coisa importante: na minha terra, não tem pobre. Tem cana de açúcar, fábrica de banha, fábrica de louça. E lá é um monte com um riacho. É uma visão maravilhosa. É monte belo mesmo.
Eu nasci com uma parteira e com um farmacêutico. Esse farmacêutico era italiano e formado em farmácia. Naquela época, era interessante: se a pessoa machucava, eles tinham na gaveta da farmácia a sangue-suga. Então punham ali no hematoma e a sangue-suga sugava o sangue todinho. Depois punham na cinza do fogão e ela vomitava o sangue todo.
Eu fiz o primário em Monte Belo. Tinha uma escola muito boa, o Grupo Escolar Coronel João Evangelista dos Anjos. Ele funcionava num salão.  Depois que terminei o primário, nunca mais entrei lá. Depois disso, meu pai administrava uma fazenda, e eu fiz os quatro anos do ginásio num colégio interno administrado pelos  padres franciscanos holandeses. Era o Ginásio São José, de Muzambinho. 
 Era colégio masculino, voltado pra educação que não temos mais hoje.
 De manhã, o padre batia palma e a gente tinha que acordar na hora. Todo mundo tomava banho frio e depois tomava o café. Todo dia tinha missa, antes das sete horas. Outro dia, conversando com alguém, eu disse que fui educado em colégio interno com os padres franciscanos holandeses. 
 Ele me disse:- Não precisa falar mais nada.Os padres tinham um cordão amarrado na cintura. 
De vez em quando, o cordão funcionava pra bater. Castigo era pouco. No domingo, depois do almoço, a gente podia sair até depois do matinê. O matinê começava às duas horas, e, de lá, todo mundo vinha embora. 
Não era exigido acompanhante, nesse dia. Mas quem cometesse qualquer falta durante a semana não saía no domingo: ficava fechado. E também não se aceitava chamar o professor de você: era o senhor ou a senhora.  
A escola ensinava a gente a ter classe, respeito, e hoje não tem isso mais.Naquela época, os alunos aprendiam as atividades rurais na escola.  E lá você tinha tudo: escova de dente, creme dental, sabonete, roupa. Até o sapato a escola dava.  Quando o aluno chegava, recebia todos os livros, que já estavam no armário aos pés da cama. O material era todo marcado com uma letra bonita da dona Albertina. Não esqueço disso. 
A gente recebia o material, mas era pago dentro da mensalidade. Tínhamos cadernos, livros, 
e caneta era a pena, de molhar.
Estudávamos latim e literatura latina. Inglês e literatura inglesa. Espanhol e literatura espanhola. 
Francês e literatura francesa. A nossa turma conversava em francês no quarto ano ginasial.
 Literatura portuguesa de Portugal e portuguesa do Brasil. No primeiro ano do segundo grau,
 nós tínhamos uma noçãozinha de grego. 
Em geografia, nós estudávamos todos os países do mundo, cidades principais, montanhas, rios, produção.
 Tínhamos trabalhos manuais. Como tinha gente da zona rural, fazia cabresto, corda, rede e outros utensílios pra montaria. Tínhamos desenho a mão livre e desenho geométrico. Agora, olha o que fizeram com a nossa educaçãoEstá tudo muito diferente.O nosso uniforme era amarelo. 
Era uma calça, uma jaqueta com botões pretos e uma camisa branca por baixo. Tínhamos o grêmio social, 
com presidente, secretário e tudo o mais. Tinha a finalidade de educar, comemorar aniversário ou ainda tratar da morte dos poetas famosos ou de figuras da política. Tudo era comemorado.
 Estimulava a literatura, a arte, a música.  Tínhamos curso de música. 
Eu sabia música muito bem. O primeiro presidente do grêmio fui eu, durante um ano.
Eu saí do ginásio e meu pai não tinha condições de pagar colégio pra mim. 
Minha mãe teve que engordar um porquinho na porta da cozinha. 
Eu ainda lembro do meu pai levando o porquinho pra cidade. Era 1946, e, naquela época, tinha um tio meu, Arthur de Melo, que morava em Belo Horizonte. Quando terminei o ginásio, falei que ia pra lá e, com 15 anos de idade, enfrentei três dias seguidos de viagem. Hoje, a viagem dura três horas, mas, naquele tempo, era complicado viajar. Eu saía de Monte Belo num dia, à noite eu saía daqui de Três Corações e ia amanhecer em Divinópolis. Quando eu cheguei aqui em Três Corações, eu vi aquela igreja e achei a coisa mais bonita do mundo. Pra você ter uma idéia, a ponte da rodoviária ainda era de madeira. Naquela hora, nasceu amor por Três Corações
Em Belo Horizonte, eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Fiz o primeiro ano colegial daquele tempo.
 Eu trabalhava com o meu tio na loja de produtos farmacêuticos. Foi uma oportunidade muito boa. 
Estudei no Colégio Anchieta, que hoje é a Faculdade Newton Paiva. Foi lá que conheci o Paulo Neves, que foi o meu professor de Português.  Ele dava verbo intransitivo pra conjugar no imperativo. Na prova, se você tirava dois, tinha comentário. Uma vez eu tirei quatro e fiquei com vergonha de falar que era eu, por causa do comício que ele fazia.  As provas valiam cinco.
Fiz apenas o primeiro ano colegial em Belo Horizonte. Era um colégio particular. 
A situação do papai tinha melhorado um pouquinho. Nesta época, a gente era obrigado a fazer prova oral. Hoje, os alunos acham que é castigo. Teve um fim de ano que eu estava louco pra ver minha mãe e meu pai, pois fazia um ano que não via os dois. As provas já estavam marcadas e eu comprei passagem no trem noturno, um dia depois da prova oral de espanhol. Naquele tempo, a gente ia dormindo no trem. 
Você escolhia o vagão normal ou a cabine com camas. Eu havia comprado a cabine, pois estava muito cansado porque era o fim do ano letivo. Mas, na véspera da prova, o que acontece? 
O diretor do curso foi atropelado e morreu. E a prova de espanhol, que era no dia seguinte, foi adiada.
 Perdi minha passagem, perdi meu leito. Eu fui falar com o diretor do colégio. 
O homem esculhambou comigo:- O senhor é um imprevidente!
Aí eu expliquei pra ele a situação. Como é que eu ia imaginar que o homem ia morrer? 
Ele disse: - Eu vou fazer o favor de te dar zero nessa prova! O boletim ainda está comigo! 
E está zero vírgula zero na prova oral de espanhol.
Mas eu vim embora!
Depois voltei pra Monte Belo e fiz o segundo e o terceiro colegial no Colégio Municipal de Alfenas.
Depois do colegial, fiquei mais três anos em Alfenas, na faculdade. O curso de odontologia era feito em três anos. A faculdade era EFOA, Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas.  No ano que eu saí, ela foi federalizada. Sempre foi boa escola, desde o meu tempo. É uma das melhores escolas do Brasil, até hoje.
 Mas, naquele tempo, era diferente, porque o aluno era diferente. O relacionamento, a responsabilidade do aluno, tudo era diferente. Nós assistíamos aula de terno e gravata. Nunca um professor meu deu aula sem terno e gravata. Todos os sábados e domingos, os alunos de Odontologia e Farmácia iam passear na praça, sempre de terno e gravata. Nas festas do clube, o povo considerava muito os alunos. Se a gente ia tirar uma menina pra dançar, primeiro cumprimentava a mãe e o pai. Era chique demais da conta. Você levava a moça até a mesa e agradecia.  Era outro mundo. Não podia nem colocar a mão fora do lugar, e a gente conversava durante a dança. Tinha um baile da primavera que era a coisa mais bonita do mundo. Isto foi de 1948 a 1951. Eu  tinha 20 anos quando eu formei em Odontologia.
Quando eu saí da faculdade, o meu professor de técnica odontológica, Paulo Passos da Silveira, me ofereceu a cadeira dele. Disse que eu era uma pessoa de confiança. Mas eu falei que nunca tinha pensado em ser professor e indiquei um colega meu, o Mário, que virou professor em Alfenas. Então, eu comprei um consultório à prestação e fui trabalhar em Governador Valadares. Eu tinha ouvido falar que lá era bom pra trabalhar. Naquela época, Valadares não tinha nem luz elétrica direito. Eram só quatro horas de energia por dia.  No resto da noite, a luz era acesa com óleo. Eu cheguei na cidade de terno e gravata, sozinho naquele mundo. Fui passear na praça e passei em frente a uma loja que estava cheia de meninas e elas riram.  Passei de novo e elas continuaram rindo.  Na terceira vez, entrei e falei que estava meio perdido, que precisava de um lugar pra morar. Aí a moçada caiu na risada. Elas acharam que eu fosse do circo, porque tinha acabado de chegar um circo por lá. Aquele pessoal era da elite, e eu acabei entrando pra elite da cidade. Naquele tempo, havia uma separação muito grande. Mas eu estava com 21 anos, e achei lá muito violento.Voltei pra Monte Belo e comecei a trabalhar como dentista. 
O pessoal da cidade fez uma associação pra fundar um ginásio na cidade. Naquele tempo, a educação era supervisionada pelos inspetores federais. Então fizeram uma reunião e o inspetor, que chamava Sebastião de Sá, veio a Guaxupé. Era um inspetor espetacular. E, durante a reunião, ele disse pra mim:
- O Senhor vai ser o diretor do colégio.
Eu esfriei todo.
- Deus me livre! Eu não quero, não entendo nada.  Não sei montar um currículo.
- Mas tem que ser o senhor.
Aí eu comecei a pensar. E ele disse:
- Minha secretária fica à sua disposição na inspetoria.  Tudo o que o senhor precisar, o senhor pode ir lá.
Eu resolvi enfrentar.  Isso já era na década de sessenta. Mas não tinha lugar pra fundar o colégio.  Então, meu sogro tinha  um prédio todo de tijolo aparente, de uma firma que estava pra fechar. E assim nós fomos começando. Terminava de contruir uma sala, começava a outra. Quando terminava uma sala, fazia uma festa. Conseguimos realizar aquele ideal, pela educação. E construímos o colégio.
Então, à medida em que o tempo foi passando, eu fui estudando. Primeiro fiz Filosofia e História em Guaxupé, depois fiz Psicologia na faculdade em Três Corações. Tenho três diplomas, doze especializações e o mestrado. Mas, naquele tempo, em Monte Belo, tinha uma política terrível, com muita briga entre as famílias e entre os partidos da época, PSD e UDN. Então, nós quisemos pôr o nome de Ginásio Moderno de Monte Belo, pois assim não ficava nem municipal, nem estadual, nem particular. Em Muzambinho, por exemplo, tinha dois colégios. No Colégio São José, estudava o pessoal do PSD. No Colégio Estadual, estudava o pessoal da UDN. Até a igreja era separada. Pra você ver como o mundo é muito pequeno: no ato de assinatura do governador, criando o colégio, eu era o presidente da Câmara da minha terra. Estava o prefeito, eu, o doutor Manoel Taveira de Souza, que era o secretário do interior e o governador, doutor Magalhães Pinto. Nós fomos pra sala do Governador e, no ato de assinatura, quem era o chefe de gabinete dele? O Paulo Neves. Ele olhou pra mim e disse:
- Eu te conheço.
- Lembra do quatro que eu tirei na sua prova?
- Estamos em casa.
* * *
Quando eu estudava na faculdade de Guaxupé, foi um tempo ótimo, porque tinha
 professores da PUC de Campinas e da Unicamp, já que Campinas fica perto dali. O Rotundaro, o Alaor e o José dos Santos eram professores aqui em Três Corações e iam de carro pra Guaxupé todo fim de semana, pra fazer o curso de Filosofia. Quando eu estava terminando a faculdade, meus filhos estavam crescendo e eu pensei: “eu vou embora daqui”. Queria ir pra Anápolis, Goiás, porque tinha um conhecido que era Secretário da Fazenda por lá. Mas quando eu falei isso, os três não deixaram de jeito nenhum.
- Você vai é pra Três Corações.
Eu já gostava daqui e falei:
- Vou, mas se eu prestar concurso e passar.
Então, abriu o concurso no Estado. Fiz, passei e vim pra cá em 1969. Os americanos chegaram lá na lua e eu aqui em Três Corações. O concurso era pra professor do Estado do primeiro grau e foi danado. Tinha uma prova oral, perante uma banca da UFMG, na Faculdade de Filosofia de Guaxupé. O negócio era complicado, não era moleza, não. Naquele tempo, você tinha que prestar o concurso pro primeiro grau e, só depois, pro segundo grau. Só que, na época, não usava essa nomenclatura. Usava ginasial e colegial. Hoje emendaram tudo. Antes era primeiro, segundo, terceiro e quarto ginasial, depois primeiro, segundo e terceiro científico. 
E, antes disso, já existiu a opção entre clássico e o científico. Quando eu entrei no colegial, acabou isso.
Quando passava no concurso, você recebia um certificado bem específico pra qual matéria e qual ciclo você podia dar aula. O primeiro ciclo correspondia da primeira à quarta série do ginásio e o segundo, do primeiro ao terceiro ano do científico. Eu comecei aqui, em Três Corações, lecionando pro ginásio. Nessa época, a inspetoria central funcionava em Juiz de Fora e tinha representante aqui em Três Corações. Nas férias, aquele professor que não tivesse credenciamento, não tivesse curso superior, fazia um mês de aula dentro da especialidade e podia lecionar. Era o exame de suficiência. Mas, se não fossem aprovados nesse curso, não podiam lecionar. 
O controle era sério.Aqui tinha dois inspetores. Eles supervisionavam os professores e era tudo inspecionado. 
 Eu dava aula de história. Aqui era uma máquina de dar aula de história. Tinha a Oneida, a Mônica, a Terezinha Fonseca e eu. No período do regime militar, houve uma intervenção no colégio. Veio pra cá o professor Amauri, que dava aula em Alfenas, pra ser diretor. Ele foi nomeado direto pelo Secretário de Educação. Ele me falou:
- Você vai tomar conta do ginásio pra mim.  Eu falei:
- Não vou, porque minha mulher disse que, se eu me envolver com direção de escola, ela me larga.
Aquilo era um abacaxi danado, e eu não quis saber. Mas ele foi lá em casa, conversou com minha mulher e ela disse: - Vai. Então, ficou o Amauri como diretor e eu, responsável pelo turno da noite, que era barra pesada.
 O Erasmo ficou como coordenador do turno da tarde e o professor Ribamar, do turno da manhã. O Amauri falava que o Colégio Estadual de Três Corações nunca mais teve e nunca mais vai ter um grupo de professores como teve. Pra quem gostava da ditadura, na época, era uma beleza. E era bom, porque tinha uma disciplina danada. Os alunos estudavam Educação Moral e Cívica, era obrigado a ter em todos os anos. Essa matéria dava toda a estrutura de governo e ia aprofundando, procurava naquilo a lógica de fazer saliência aos militares. Estudava as revoluções no Brasil, e foram muitas.
Naquele tempo, nós tínhamos 2.400 alunos, pra mais. À noite, nós tínhamos uma turma de alunos da ESA.  Eles vinham pro curso colegial, ou segundo grau. E, nesta época, resolveu-se que todos os alunos deviam desfilar no 7 de setembro. Imagine: todos os alunos! Colocar os 2.400 alunos em forma! Foi difícil, mas conseguimos.No turno da noite, tinha alunos pobres e ricos misturados, e alguns alunos da EsSA também. O problema disso é que os alunos ricos queriam ter mais regalias que os pobres. E o pobre se sentia humilhado. Era difícil. O primeiro problema meu foi com respeito a uniforme. E aí o diretor era o doutor Ubirajara Lopes Vieira. Ele era um cara oito ou oitenta, com ele não tinha conversa. Inclusive, ele mandava medir as saias das moças pra ver a que altura estava do joelho. Ele era pulso firme.  E falava com a gente:
- Vocês é que são os diretores, são os responsáveis por seus turnos, façam suas coisas direito. Porque se fizerem coisas erradas, eu vou ter que defender vocês, e defender coisa errada é muito difícil.
No meu turno, eu pus ordem. O aluno que era repetente não estudava mais no Colégio.  De primeira limpeza, foram 34 embora. Vinham fazer a matrícula ou pegar uma carteirinha pro cinema e eram recusados. Teve afilhado do prefeito que foi até o Delegado em Varginha. Mas não entrava, não, porque ocupava o lugar dos outros. 
O doutor Ubirajara era uma pessoa do coração muito bom.  Uma vez, ele veio conversar comigo:
- Não quero menino nenhum sem uniforme.
- Mas como exigir uniforme de menino pobre?
- Vai lá no Zé Naback e compra uniforme pra quem precisa.
Nós tínhamos duas educadoras espetaculares: a Maria da Glória e a Ivani. Elas fizeram o levantamento socio-econômico dos meninos. Nós fizemos mais de 200 uniformes. Foi um dia que eu nunca esqueci. Você precisava ver a satisfação daqueles meninos. Nunca tinham ganhado nada. E agora tinham uniforme igual aos outros. Educar é isso.
Eu fiquei como diretor do turno da noite por 10 anos. Depois, foi lançada, por um governo, uma seleção competitiva interna. Se você era engenheiro e professor, podia fazer exame pra engenharia do Estado. 
Eu, como era dentista, fiz o concurso e passei. Fui trabalhar fora da área de ensino e por isso deixei a escola. 

Na Universidade, eu ingressei da seguinte forma: o professor José Maria Maciel pediu que todos os dentistas mandassem o currículo pra ele. O seu secretário, Muriel, selecionou os currículos daqueles que podiam lecionar. Eu tinha duas cadeiras na Universidade de Campanha. Lecionava História e História do Brasil. E tinha três cadeiras na faculdade de Odontologia em Lavras: dentística, material dentário e dentística clínica. Então eu fui selecionado e comecei a lecionar na faculdade daqui. Deixei a faculdade de Lavras, na ocasião.
Houve uma época em que o Estado não oferecia o atendimento odontológico nas escolas, mas nós fizemos um trabalho muito bom com meus alunos da Universidade. Em conjunto com o Dr. Francisco, da Seccional de Saúde de Varginha, e com dinheiro de rifas, colocamos um consultório no Estadual, um no Polivalente e um numa escola na saída pra Cambuquira, pros alunos trabalharem.
Falam que sou muito exigente. Eu não aceito um aluno meu chegar atrasado na aula. Com 43 anos que dou aula, eu nunca cheguei atrasado numa aula. Eu falo pros meus alunos:
- Eu gosto tanto de vocês que eu não quero que vocês percam nem um minuto de aula.
A educação de 20 anos atrás é muito diferente da de hoje. A mocidade de hoje precisa de muito carinho e muita compreensão. Hoje, você vai no computador e tem tudo na mão. Não tem carinho, não tem diálogo. Por exemplo, os meus alunos da Odontologia mostram uma necessidade muito grande de carinho, de amizade. Todos eles, quando chegam, pegam na minha mão na hora de entrar na aula e, na hora de sair, me abraçam. Acho que educar é isso. Hoje, meus alunos trazem os filhos pra me conhecerem. Imagina o que vira meu consultório, é um choro só. Conclusão:  eu analiso isto daqui, como é importante o relacionamento na escola, partindo dessa minha visão. É tão bom ver as pessoas felizes. O aluno tem que conversar e rir. Quando não ri, você pode saber que falta alguma coisa. Faz falta a amizade, o abraço, na escola

PROF: TERESINHO RITO
OBRIGADO  PELO SEU TRABALHO E DEDICAÇÃO EM PROL DE TRÊS CORAÇÕES , DA UNINCOR -TC  E DO CLUBE ATLÉTICO DE TRÊS CORAÇÕES.

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