terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Xexente o contador de histórias

A foto é do jornalista Paulo Morais. 


Por Alaine Gláucia

Você sabia que Três Corações tem um poeta e escritor que já foi citado no

famoso Guinness Book e é membro de Academias de Letras de diversas cidades do país?
Trata-se de Sebastião Domingos Pereira, vulgo Xexente, radialista há mais
de 41 anos. O autodidata escreveu mais de 15 livros, é sócio titular do Instituto da
Poesia Internacional de Porto Alegre, ocupando a cadeira 94, é membro da
Academia Eldoradense de Letras, de São Paulo, cadeira número 11 e ocupa a cadeira
11 também na Academia de Letras de Três Corações, na qual o patrono é o escritor
Darcy Brasil.
O comunicador tem uma história de vida curiosa. Viveu uma infância
sofrida, uma juventude boêmia, mas ainda hoje mantêm a credibilidade de seu nome e
um programa de rádio com bastante audiência.
Xexente, como gosta de ser chamado, nasceu em 20 de janeiro de 1942, em
Lambari, mas veio ainda muito jovem para Três Corações.
O radialista considera nossa cidade como sua terra natal, pois recebeu o
título de cidadão tricordiano das mãos do falecido prefeito Guará.
Para justificar a facilidade que tem para escrever e produzir
textos autorais com pouco estudo acadêmico, Sebastião Domingos conta que
ainda pequeno estudou em uma das melhores escolas da época.
 “Eu vim pequenino pra cá, quando eles estavam
começando a Colônia Santa Fé, meu pai veio trabalhar de motorista.
A minha infância ali na colônia foi muito boa, aquela
coisa que a gente era feliz e não sabia.
 Eu estudei no Ateneu São José, de dona Cacilda Ribeiro Vilela, esposa do seu Minguinho,
seu Domingos Vilela e por incrível que pareça, era um estudo bom aquela época,
um estudo mesmo.
Estudei quatro anos, primeiro, segundo, terceiro e quarto, depois
um ano de admissão pra ir pro Colégio Estadual, o Ginásio.
Que na época era o Ginásio, mas eu não pude, meu pai falou:
você não.
 Na época pagava, então eu estudei mesmo, quatro anos e pouquinho,
quase cinco anos, escola primária.”
Órfão de mãe, Xexente conta que viveu inúmeros causos durante seus anos de vida,
mas ressalta que seu maior professor foi as experiências da vida.
“Acho que acontece comigo de eu ter essa veia artística de coisa,
foi a própria escola da vida que me ensinou, entendeu?
 Eu já escrevi 10 livros sobre Três Corações e escrevi agora cinco livros sobre
palavras de vida, Histórias do cotidiano, tema evangélico, sabe?
Então, agora em novembro deverá sair mais um livro meu:
Histórias da Colônia Santa Fé.
Então a minha vida foi essa.
 Eu entrei novo na rádio e eu não servi o Exército.
 Eu não queria de jeito nenhum, arrumei um jeito de sair fora.
E tive uma vida até meio sofrida, porque eu perdi minha mãe quando eu tava estudando
na Dona Cacilda, no Ateneu São José.
Foi uma morte de repente, eu tinha nove anos e
eu fiquei pelo mundo sem mãe.
Meu pai logo casou de novo e eu levanto as mãos pro céu, graças a Deus,
agradeço muito mesmo, porque eu podia me transformar num traficante, num ladrão,num usuário de
drogas.
Não, mas Deus me ajudou tanto, que eu criei minha família, casei aqui, cinco
filhos, casinha simples, mas é minha mesmo.
Eu sou feliz, tive uns tropeços na vida, cheguei a beber bastante.
Aí eu dormia na rua, por isso que eu fiz o livro
'Menino de rua', esse mineiro de rua era eu.”, diz. Todos os livros de Xexente quando
publicados, são expostos e vendidos.
Boêmio assumido na juventude, ele se considera um vencedor, pois atualmente é
evangélico e repreende algumas atitudes tomadas na época em que era um “Mineiro
de Rua”: “Comecei com este caminho depois que eu saí da escola.
Minha mãe morreu e eu fui morar na casa de parentes.
Eu era livre que nem um passarinho, não tinha ninguém pra me falar assim não “faz
isso não, tá errado”.
Eu então ia pescar no Rio Verde, pegava uns peixinhos, vendia,
fui engraxate, bebia pinguinha, fumava muito.
Hoje eu não bebo e não fumo, faz mais de vinte anos”.
Na profissão de radialista que o ajudou a sustentar sua
família, ele começou bem jovem e ainda trabalha nela até hoje, depois de mais de
A minha infância ali na colônia foi muito boa, aquela
coisa que a gente era feliz e não sabia. Eu estudei no
Ateneu São José, de dona Cacilda Ribeiro Vilela, esposa
do seu Minguinho, era um estudo bom aquela época.
uma década de aposentadoria. Xexente explica que apesar de aposentado, seus
tradicionais programas possuem uma boa audiência “Eu entrei na rádio com
experiência assim, eu tava com uns catorze, quinze anos.
Gostava, trabalhei de locutor em parques, circos.
Então fui fazer um teste com o Valadão e ele gostou da minha locução.
O tempo foi passando e eu fiquei e to até hoje.
 Me aposentei na rádio, faz mais doze anos que eu me aposentei, já vai fazer
quase treze. A antiga Rádio Clube Três Corações, hoje Rádio Tropical, teve seus
tempos áureos dos festivais de canções e eu vivi tudo isto.
Continuo lá hoje, tenho um programa, o Marcelo Musa que é o
proprietário, me deu, três horas e meia.
 O programa se chama ‘Querência gaúcha’, tenho outro ‘Cantinho do Rei’, que é um
programa de músicas evangélicas e tenho outro o ‘Carrossel’, que o Vítor Cunha
criou, tem mais de 30 anos e é sucesso até hoje”.
Apesar de tantos talentos obtidos sozinhos, o comunicador revela outra paixão.
 Ele é muito fã de uma das maiores personalidades do país e que na visão dele
possui a qualidade de ser tricordiano – Pelé. 
Xexente possui uma vasta coleção de fotos sobre o Rei do Futebol, algumas relíquias
que foram publicadas em jornais antigos, usados em publicações sobre o atleta e que
ele guardou os recortes intactos.
O radialista conta que a cada ano, há mais de uma década faz questão de expor estas fotos
em locais da cidade. “Já fiz exposição no Colégio Estadual, no Clube Três Corações,
tenho centenas de fotos que guardo com muito carinho”, diz.

fonte: http://museudaoralidade.org.br/wp-content/uploads/2011/01/ora-05-web1.pdf

Um comentário:

  1. Alaine,

    Terá o Sebastião Domingos conhecido um interno da Colônia Santa Fé que escrevia poesias e assiva sob o pseudônimo de "Dabilu Êne"? . Ele viveu na Colônia entre 1942-1950. Muito obrigada.

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